Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas.
Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam uma arte do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque uma essência dos pássaros é o vôo.
Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para VOAR. Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.
Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam uma arte do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque uma essência dos pássaros é o vôo.
Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para VOAR. Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.
Rubem Alves ...
Este espaço será aproveitado para contribuições diversas; frases, mensagens, músicas e textos de estudiosos, cientistas, poetas, pesquisadores e amigos da Educação; planos de aula, entre outros. Convido a todos e a todas para caminharmos juntos nesta jornada em prol da educação e do mundo que tanto queremos: mais igualitário; democrático e justo.
"A injustiça que se faz a um, é uma ameaça que se faz a todos." Montesquieu.
"A grande ciência da vida é aprender a recomeçar. Recomeçar com confiança e entusiasmo." Lições de Dorina Gouveia Nowill - Para quem quer ver além.
..."Há muitas pessoas de visão perfeita que nada veem"......"O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido"... Rubem Alves.
Outra Ceia - Grupo Pura Tentação
Composição: Carlito Cavalcante / Marquinho Pqd
Eu tive um sonho bom
Gostoso de sonhar
Durou a noite inteira
Eu tive um sonho bom
Sonhei com Oxalá
Em plena sexta-feira
Abri o coração com toda a minha fé
Cansado de chorar, rezei
Falei da minha cruz
Roguei o seu axé
A luz que é verdadeira
Também pedi perdão por tudo o que eu errei
E ele quis cuidar de mim
Chamou os Orixás
Corrente de poder
Nessa reunião se fez
Mandou Iemanjá, Oxum
Oxumaré
Lavarem o meu coração
Que o vento de Iansã soprasse com amor
Mais justiça de Xangô
Que a espada de Ogum ganhasse de uma vez
Batalhas por onde eu passar
Que Oxossi não deixasse a ceia me faltar
E Ossaim com as ervas me banhar
Da saúde também, Omolú vai cuidar
A falange atendeu ao meu Pai Oxalá
"Nós não devemos deixar que as incapacidades das pessoas nos impossibilitem de reconhecer as suas habilidades." Hallahan e Kauffman.
"Um dia quando olhares para trás, verás que os dias mais belos foram aqueles em que lutaste" Sigmund Freud.
"Somos diferentes, mas não queremos ser transformados em desiguais. As nossas vidas só precisam ser acrescidas de recursos especiais". Peça de teatro: Vozes da Consciência, BH.
"É apenas com o coração que se pode ver direito; o essencial é invisível aos olhos." Antoine de Saint Exupéry.
"Se queres ser cego, sê-lo as...se podes olhar, vê; se podes ver, repara." José Saramago/Ensaio sobre a cegueira.
"A prisão não são as grades, e a liberdade não é a rua; existem homens presos na rua e livres na prisão. É uma questão de consciência." Ghandi.
"A capacidade de luta que há em você, precisa de adversidades para revelar-se." Pierre Schurmann.
"Começar já é metade da ação". Provérbio Grego.
"Se as coisas são inatingíveis, não é motivo para não querê-las. Que tristes os caminhos se não fora a presença distante das estrelas". Mário Quintana.
"Não devemos ter medo dos confrontos... até os planetas se chocam e do caos nascem as estrelas". Charles Chaplin.
"Algo só é impossível até que alguém duvide e acabe provando o contrário". Albert Einstein.
"Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão". Paulo Freire.
"Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós, deixam um pouco de si, levam um pouco de nós." Saint Exupéry.
"Quando uma porta da felicidade se fecha, outra se abre. Muitas vezes ficamos tanto tempo olhando para a porta fechada que não vemos a que se abriu." Helen Keller.
"Não há saber mais ou saber menos: há saberes diferentes". Paulo Freire.
"A força não provém da capacidade física, mas da vontade férrea". Mahatma Gandhi.
"Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância". Sócrates.
"Inclusão é o privilégio de conviver com as diferenças". Mantoan.
"Suba o primeiro degrau com fé. Mesmo que você não veja toda a escada, apenas dê o primeiro passo." Martin Luther King.
"O que importa não é aquilo que fizeram de ti mas, o que vai fazer com o que fizeram de ti". Sartre.
..."Sem a Educação das Sensibilidades, todas as Habilidades são tolas e sem sentido"...Rubem Alves.
"Eu acredito na sorte. Toda vez que ela me procura eu estou no meu ateliê trabalhando". Picasso.
"Triste não é mudar de idéia. Triste é não ter idéia para mudar!" Francis Bacon.
"A persistência é o caminho do êxito". Charles Chaplin.
“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos...(Art. 1º)” Declaração Universal do Direitos Humanos - 1948.
"Aprendemos a voar como pássaros e a nadar como peixes, mas não aprendemos a conviver como irmãos." M. Luther King.
"Só é lutador quem sabe lutar consigo mesmo". Carlos Drummond de Andrade.
"Existem muitos motivos para não se amar uma pessoa, apenas um para amá-la". Carlos Drummond de Andrade.
"Não há barreiras que a mente humana não possa transpor". Hellen Keller.
"Se os meus olhos não me deixam obter informações sobre homens e eventos, sobre ideias e doutrinas, terei de encontrar uma outra forma." Louis Braille.
"O que me preocupa não é o grito dos maus, é o silêncio dos bons". Martin Luther King.
“Quando a vida lhe sugerir desafios, não fique circulando ao redor dos seus hábitos comuns." Walter Grando.
“Você não pode impedir que os pássaros da tristeza voem sobre sua cabeça, mas pode, sim, impedir que façam um ninho em seu cabelo.” Provérbio Chinês.
“Ai daqueles que pararem com sua capacidade de sonhar, de invejar sua coragem de anunciar e denunciar. Ai daqueles que, em lugar de visitar de vez em quando o amanhã pelo profundo engajamento com o hoje, com o aqui e o agora, se atrelarem a um passado de exploração e de rotina.” Paulo Freire.
“O mundo não está ameaçado pelas pessoas más, e sim por aquelas que permitem a maldade.” Albert Einstein.
Mais uma vez
RENATO RUSSO
Mas é claro que o sol
Vai voltar amanhã
Mais uma vez, eu sei...
Escuridão já vi pior
De endoidecer gente sã
Espera que o sol já vem...
Tem gente que está
Do mesmo lado que você
Mas deveria estar do lado de lá
Tem gente que machuca os outros
Tem gente que não sabe amar...
Tem gente enganando a gente
Veja nossa vida como está
Mas eu sei que um dia
A gente aprende
Se você quiser alguém
Em quem confiar
Confie em si mesmo...
Quem acredita
Sempre alcança...
Mas é claro que o sol
Vai voltar amanhã
Mais uma vez, eu sei...
Escuridão já vi pior
De endoidecer gente sã
Espera que o sol já vem...
Nunca deixe que lhe digam:
Que não vale a pena
Acreditar no sonho que se tem
Ou que seus planos
Nunca vão dar certo
Ou que você nunca
Vai ser alguém...
"A vida não consiste em ter boas cartas na mão e sim em jogar bem as que se tem." Josh Billings.
"Se queremos progredir, não devemos repetir a história, mas fazer uma nova história.” Gandhi.
"Valorize os seus limites, e por certo não se livrará mais deles!" Richard Bach.
"Um homem só tem o direito de olhar um outro de cima para baixo, para ajudá-lo a levantar-se." Gabriel Garcia Marquez.
"Seja a mudança que você quer ver no mundo". Dalai Lama.
"Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim". Chico Xavier.
"Ainda que eu fale todas as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor sou como o bronze que soa ou o sino que retine... mesmo que tivesse toda a fé a ponto de transportar montanhas, se não tiver amor, eu nada serei. Paulo, carta aos Coríntios, Cap. 13”.
"Nada é tão nocivo para os povos do que dar-se por satisfeito com meras palavras e aparências." François Guizot.
"O presente é a sombra que se move separando o ontem do amanhã. Nela repousa a esperança." Frank Lloyd Wright.
"Época triste a nossa... mais fácil quebrar um átomo que um preconceito". Einstein.
“A diversidade é o que nos faz brasileiros.” Walysson dos Reis.
“Prefiro ser um homem de paradoxos que um homem de preconceitos.” Jean Jacques Rousseau.
Depois de algum tempo você aprende a diferença,
a sutil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma.
E você aprende que amar não significa apoiar-se,
e que companhia nem sempre significa segurança.
E começa a aprender que beijos não são contratos
e presentes não são promessas.
E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida
e olhos adiante, com a graça de um adulto
e não com a tristeza de uma criança.
E aprende a construir todas as suas estradas no hoje,
porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos,
e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão.
Depois de um tempo você aprende que o sol queima
se ficar exposto por muito tempo.
E aprende que não importa o quanto você se importe,
algumas pessoas simplesmente não se importam…
E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa,
ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la por isso.
Aprende que falar pode aliviar dores emocionais.
Descobre que se leva anos para se construir confiança
e apenas segundos para destruí-la,
e que você pode fazer coisas em um instante,
das quais se arrependerá pelo resto da vida.
Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer
mesmo a longas distâncias.
E o que importa não é o que você tem na vida,
mas quem você é na vida.
E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher.
Aprende que não temos que mudar de amigos
se compreendemos que os amigos mudam,
percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa,
ou nada, e terem bons momentos juntos.
Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida
são tomadas de você muito depressa,
por isso sempre devemos deixar as pessoas que amamos
com palavras amorosas, pode ser a última vez que as vejamos.
Aprende que as circunstâncias e os ambientes tem influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos.
Começa a aprender que não se deve comparar com os outros,
mas com o melhor que você mesmo pode ser.
descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser, e que o tempo é curto.
Aprende que não importa onde já chegou, mas onde está indo,
mas se você não sabe para onde está indo,
qualquer lugar serve.
Aprende que, ou você controla seus atos ou eles o controlarão,
e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade,
pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação,
sempre existem dois lados.
Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer,
enfrentando as conseqüências.
Aprende que paciência requer muita prática.
Descobre que algumas vezes a pessoa que você espera que o chute
quando você cai é uma das poucas que o ajudam a levantar-se.
Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência
que se teve e o que você aprendeu com elas
do que com quantos aniversários você celebrou.
Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha.
Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens,
poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia
se ela acreditasse nisso.
Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva,
mas isso não lhe dá o direito de ser cruel.
Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer
que ame, não significa que esse alguém não o ama,
pois existem pessoas que nos amam,
mas simplesmente não sabem como demonstrar isso.
Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém,
algumas vezes você tem que aprender a perdoar-se a si mesmo.
Aprende que com a mesma severidade com que julga,
você será em algum momento condenado.
Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido,
o mundo não pára para que você o conserte.
Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás.
Portanto,plante seu jardim e decore sua alma,
ao invés de esperar que alguém lhe traga flores.
E você aprende que realmente pode suportar…
que realmente é forte, e que pode ir muito mais
longe depois de pensar que não se pode mais.
E que realmente a vida tem valor
e que você tem valor diante da vida!
Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o bem
que poderíamos conquistar, se não fosse o medo de tentar.
William Shakespeare
“A ignorância não fica tão distante da verdade quanto o preconceito.” Denis Diderot.
“Enfrentar preconceitos é o preço que se paga por ser diferente.” Luiz Gasparetto.
“O medo é um preconceito dos nervos. E um preconceito, desfaz-se - basta a simples reflexão” Machado de Assis.
“Nunca é tarde para abrirmos mão dos nossos preconceitos.” Henry Thoreau.
“Muitas pessoas pensam que estão a pensar quando estão apenas a re-arrumar os seus preconceitos.“ William James.
“A paixão destrói mais preconceitos do que a filosofia.” Denis Diderot.
“Que País é esse onde o preconceito está guardado em cada peito?! Que País é esse onde as pessoas não podem ser iguais, devido a suas classes sociais?!” Bob Marley.
O amor... Ah, o amor...
O amor quebra barreiras, une facções,
destrói preconceitos,
cura doenças...
Não há vida decente sem amor!
E é certo, quem ama, é muito amado.
E vive a vida mais alegremente...
Artur da Távola
“Se minha Teoria da Relatividade estiver correta, a Alemanha dirá que sou alemão e a França me declarará um cidadão do mundo. Mas, se não estiver, a França dirá que sou alemão e os alemães dirão que sou judeu.” Albert Einstein.
“Enquanto a cor da pele for mais importante que o brilho dos olhos, haverá guerra.” Bob Marley.
“Não preciso ter ambições. Só tem uma coisa que eu quero muito: que a humanidade viva unida... negros e brancos todos juntos.” Bob Marley.
"Enquanto imperar a filosofia de que há uma raça inferior e outra superior o mundo estará permanentemente em guerra. É uma profecia, mas todo mundo sabe que isso é verdade". Bob Marley.
“Tentar e falhar é, pelo menos, aprender. Não chegar a tentar é sofrer a inestimável perda do que poderia ter sido.” Geraldo Eustáquio.
“A morte do homem começa no instante em que ele desiste de aprender.” Albino Teixeira.
“Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.” Cora Coralina.
“Quanto mais aumenta nosso conhecimento, mais evidente fica nossa ignorância.” John Kennedy.
“Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância.” Sócrates.
“Experiência não é o que acontece com um homem; é o que um homem faz com o que lhe acontece.” Aldous Huxley.
“O talento educa-se na calma, o caráter no túmulo da vida.” Goethe.
“Aprender música lendo teoria musical é como fazer amor por correspondência.” Luciano Pavarotti.
“Conhecimento real é saber a extensão da própria ignorância.” Confúcio.
“Investir em conhecimentos rende sempre melhores juros.” Benjamin Franklin.
“A única coisa que interfere com meu aprendizado é a minha educação.” Albert Eisntein.
“Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.” Clarice Lispector.
“Educação é o que resta depois de ter esquecido tudo que se aprendeu na escola.” Albert Einstein.
“Por que cometer erros antigos se há tantos erros novos a escolher?” Bertrand Russel.
“Aprende a viver e saberás morrer bem.” Confúcio.
“Você não pode ensinar nada a um homem; você pode apenas ajudá-lo a encontrar a resposta dentro dele mesmo.” Galileu Galilei.
“Nunca encontrei uma pessoa tão ignorante que não pudesse ter aprendido algo com sua ignorância.” Galileu Galilei.
“Você vê coisas e diz: Por quê? Mas eu sonho coisas que nunca existiram e digo: Por que não?” George Bernard Shaw.
“Uma vida gasta cometendo erros não é mais honrada, mas é mais útil do que uma vida gasta fazendo nada.” George Bernard Shaw.
“Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não leem.” Mário Quintana.
“Diplomas, títulos, PhDs! A natureza, ao fazer um ser humano competente, por acaso consulta faculdades?” Millôr Fernandes.
“Nos campos da observação, o acaso favorece apenas as mentes preparadas.” Louis Pasteur.
“Conhece-te a ti mesmo.” Sócrates.
“Duvidemos até mesmo da própria dúvida.” Anatole France.
“O futuro das organizações - e nações - dependerá cada vez mais de sua capacidade de aprender coletivamente.” Peter Senge.
“Experiência é o que nos permite repetir nossos erros, só que com mais ‘finesse’.” Derwood Fincher.
“A verdadeira viagem se faz na memória.” Marcel Proust.
“A imaginação é mais importante que o conhecimento.” Albert Einstein.
“Conhecimento é poder.” Francis Bacon.
“Se o conhecimento pode criar problemas, não é através da ignorância que podemos solucioná-los.” Isaac Asimov.
“Habilidade só se ganha fazendo.” Ralph Waldo Emerson.
“No mundo dos negócios todos são pagos em duas moedas: dinheiro e experiência. Agarre a experiência primeiro, o dinheiro virá depois.” Harold Genee.
“O valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.” Fernando Pessoa.
“A adversidade desperta em nós capacidades que, em circunstâncias favoráveis, teriam ficado adormecidas.” Horácio.
“Se não puder voar, corra. Se não puder correr, ande. Se não puder andar, rasteje, mas continue em frente de qualquer jeito.” Martin Luther King.
“Para sonhar um ano novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.” Carlos Drummond de Andrade.
"Conhecer não é demonstrar nem explicar, é aceder à visão." Antoine de Saint-Exupéry.
“Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando... Porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive, já morreu...” Luiz Fernando Veríssimo.
“Existem homens que lutam um dia e são bons; existem outros que lutam um ano e são melhores; existem aqueles que lutam muitos anos e são muito bons. Porém, existem os que lutam toda a vida. Estes são os imprescindíveis.” Bertolt Brechet.
“O primeiro problema para todos, homens e mulheres, não é aprender, mas desaprender.” Gloria Steinem.
“Pode-se viver uma vida inteira e, no fim, saber mais dos outros do que de si mesmo.” Beryl Markham.
“Educação nunca foi despesa. Sempre foi investimento com retorno garantido.” Arthur Lewis.
“Se você quer os acertos, esteja preparado para os erros.” Carl Yastrzemski.
“As únicas respostas interessantes são aquelas que destroem as perguntas.” Susan Sontag.
“Educai as crianças, para que não seja necessário punir os adultos.” Pitágoras.
“Primeiro aprenda a ser um artesão. Isso não impedirá você de ser um gênio.” Eugene Delacroix.
“Deus nos concede, a cada dia, uma página de vida nova no livro do tempo. Aquilo que colocarmos nela, corre por nossa conta.” Chico Xavier.
“A teoria sempre acaba, mais cedo ou mais tarde, assassinada pela experiência.” Albert Einstein.
“As coisas mais simples da vida são as mais extraordinárias, e só os sábios conseguem vê-las.” Paulo Freire.
“A violência destrói o que ela pretende defender: a dignidade da vida, a liberdade do ser humano.” Paulo Freire.
“Os sonhos devem ser ditos para começar a se realizarem. E como todo projeto, precisam de uma estratégia para ser alcançados. O adiamento destes sonhos desaparecerá com o primeiro movimento.” Paulo Freire.
“Acerte em tudo que puder acertar. Mas, não se torture com seus erros.” Paulo Freire.
“A educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.” Paulo Freire.
“Escuta o teu coração, ele conhece todas as coisas; pois onde ele estiver, é onde está o teu tesouro.” Paulo Freire.
“O maior de todos os pecados: o arrependimento.” Paulo Freire.
“O perdão é um catalisador que cria a ambiência necessária para uma nova partida, para um reinício.” Martin Luther King.
“É melhor tentar e falhar, que preocupar-se e ver a vida passar.
É melhor tentar, ainda que em vão que sentar-se, fazendo nada até o final.
Eu prefiro na chuva caminhar, que em dias frios em casa me esconder.
Prefiro ser feliz embora louco, que em conformidade viver.” Martin Luther King.
“Se soubesse que o mundo se desintegraria amanhã, ainda assim plantaria a minha macieira. O que me assusta não é a violência de poucos, mas a omissão de muitos. Temos aprendido a voar como os pássaros, a nadar como os peixes, mas não aprendemos a sensível arte de viver como irmãos.” Martin Luther King.
“O que vale não é o quanto se vive... Mas como se vive.” Martin Luther King.
“A entrada para a mente do homem é o que ele aprende, a saída é o que ele realiza. Se sua mente não for alimentada por um fornecimento contínuo de novas idéias, que ele põe a trabalhar com um propósito, e se não houver uma saída por uma ação, sua mente torna-se estagnada. Tal mente é um perigo para o indivíduo que a possui e inútil para a comunidade." Jeremias W. Jenks.
“Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever - inclusive a sua própria história". BILL GATES.
"Dificuldades reais podem ser resolvidas; apenas as imaginárias são insuperáveis". Theodore N. Vait.
"Devemos ser poetas na batalha da educação. Podemos chorar, mas jamais desanimar. Podemos nos ferir, mas jamais deixar de lutar. Devemos ver o que ninguém vê". Augusto Cury.
"O principal objetivo da educação é criar pessoas capazes de fazer coisas novas e não simplesmente repetir o que as outras gerações fizeram." Jean Piaget.
“Nós não podemos nos concentrar somente na negatividade da guerra, mas também na positividade da paz.” Martin Luther King.
“Mesmo as noites totalmente sem estrelas podem anunciar a aurora de uma grande realização.” Martin Luther King.
“Eu tenho um sonho. O sonho de ver meus filhos julgados por sua personalidade, não pela cor de sua pele.” Martin Luther King.
“O que afeta diretamente uma pessoa, afeta a todos indiretamente.” Martin Luther King.
“Enfrentaremos a força física com a nossa força moral.” Martin Luther King.
"Eu também sou vítima de sonhos adiados, de esperanças dilaceradas, mas, apesar disso, eu ainda tenho um sonho, porque a gente não pode desistir da vida." Martin Luther King.
“A covardia coloca a questão: 'É seguro?'
O comodismo coloca a questão: 'É popular?'
A etiqueta coloca a questão: 'É elegante?'
Mas a consciência coloca a questão, 'É correto?'
E chega uma altura em que temos de tomar uma posição que não é segura, não é elegante, não é popular, mas o temos de fazer porque a nossa consciência nos diz que é essa a atitude correta.” Martin Luther King.
“O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem-caráter, nem dos sem-ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons.” Martin Luther King.
“O bravo não é quem não sente medo, mas quem vence esse medo.” Nelson Mandela.
“A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho original.” Albert Einstein.
“Esperança não murcha, ela não cansa, também como ela não sucumbe a crença. Vão-se sonhos nas asas da descrença, voltam sonhos nas asas da esperança''. Augusto dos Anjos.
“Paciência e perseverança têm o efeito mágico de fazer as dificuldades desaparecerem e os obstáculos sumirem.” John Lennon.
“Não corrigir as próprias falhas é cometer a pior delas.” Confúcio.
"Nunca deixo de ter em mente que o simples fato de existir já é divertido." Katherine Hepburn.
“Não há nada como regressar a um lugar que está igual para descobrir o quanto a gente mudou.” Nelson Mandela.
“Sonho com o dia em que todos se levantarão e compreenderão que foram feitos para viverem como irmãos.” Nelson Mandela.
“Se você falar com um homem numa linguagem que ele compreende, isso entra na cabeça dele. Se você falar com ele em sua própria linguagem, você atinge seu coração.” Nelson Mandela.
“Uma boa cabeça e um bom coração formam sempre uma combinação formidável.” Nelson Mandela.
“Devemos promover a coragem onde há medo, promover o acordo onde existe conflito, e inspirar esperança onde há desespero.” Nelson Mandela em seu aniversário de 89 anos.
"Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar." Nelson Mandela.
“A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo.” Nelson Mandela.
Dona Custódia
Ar de empregada ela não tinha: era uma velha mirrada, muito bem arranjadinha, mangas compridas, cabelos em bando num vago ar de camafeu – e usava mesmo um, fechando-lhe o vestido ao pescoço. Mas via-se que era humilde – atendera ao anúncio publicado no jornal porque satisfazia às especificações, conforme ela própria fez questão de dizer: sabia cozinhar, arrumar a casa e servir com eficiência a senhor só.
O senhor só fê-la entrar, meio ressabiado. Não era propriamente o que esperava, mas tanto melhor: a velhinha podia muito bem dar conta do recado, por que não? E além do mais impunha dentro de casa certo ar de discrição e respeito, propício ao seu trabalho de escritor. Chamava-se Custódia.
Dona Custódia foi logo botando ordem na casa: varreu a sala, arrumou o quarto, limpou a cozinha, preparou o jantar. Deslizava como uma sombra para lá e para cá – em pouco sobejavam provas de sua eficiência doméstica. Ao fim de alguns dias ele se acostumou à sua silenciosa iniciativa (fazia de vez em quando uns quitutes) e se deu por satisfeito: chegou mesmo a pensar em aumentar-lhe o ordenado, sob a feliz impressão de que se tratava de uma empregada de categoria.
De tanta categoria que no dia do aniversário do pai, em que almoçaria fora, ele aproveitou-se para dispensar também o jantar, só para lhe proporcionar o dia inteiro de folga. Dona Custódia ficou muito satisfeitinha, disse que assim sendo iria também passar o dia com uns parentes no Rio Comprido.
Mas às quatro horas da tarde ele precisou dar um pulo no apartamento para apanhar qualquer coisa que não vem à história. A história se restringe à impressão estranha que teve, então, ao abrir a porta e entrar na sala: julgou mesmo ter errado de andar e invadido casa alheia. Porque aconteceu que deu com os móveis da sala dispostos de maneira diferente, tudo muito bem arranjadinho e limpo, mas cheio de enfeites mimosos: paninho de renda no consolo, toalha bordada na mesa, dois bibelôs sobre a cristaleira – e em lugar da gravura impressionista na parede, que se via? Um velho de bigodes o espiava para além do tempo, dentro de uma moldura oval. Nem pôde examinar direito tudo isso, porque, espalhadas pela sala, muito formalizadas e de chapéu, oito ou dez senhoras tomavam chá! Só então reconheceu entre elas dona Custódia, que antes proseava muito à vontade mas ao vê-lo se calou estatelada. Estupefato, ele ficou parado sem saber o que fazer e já ia dando o fora quando sua empregada se recompôs do susto e acorreu, pressurosa:
- Entre, não faça cerimônia! – puxou-o pelo braço, voltando-se para as demais velhinhas: - Este é o moço que eu falava, a quem alugo um quarto.
- Foi apresentado a uma por uma: viúva do desembargador Fulano de Tal; senhora Assim-Assim; senhora Assim-Assado; viúva de Beltrano, aquele escritor da Academia! Depois de estender a mão a todas elas, sentou-se na ponta de uma cadeira, sem saber o que dizer. Dona Custódia veio em sua salvação.
- Aceita um chazinho?
- Não, muito obrigado. Eu...
- Deixa de cerimônia. Olha aqui, experimenta uma brevidade, que o senhor gosta tanto. Eu mesma fiz. Que ela mesma fizera ele sabia – não haveria também de pretender que ele é que cozinhava. Que diabo ela fizera de seu quadro? E os livros, seus cachimbos, o nu de Modigliani junto à porta substituído por uma aquarelinha....
- A senhora vai dar licença, dona Custódia.
Foi ao quarto – tudo sobre a cama, nas cadeiras, na cômoda. Apanhou o tal objeto que buscava e voltou à sala:
- Muito prazer, muito prazer – despediu-se, balançando a cabeça e caminhando de costas como um chinês. Ganhou a porta e saiu. Quando regressou, tarde da noite, encontrou como por encanto o apartamento restituído à arrumação original, que o fazia seu. O velho bigodudo desaparecera, o paninho de renda, tudo – e os objetos familiares haviam retornado ao lugar.
- A senhora...
Dona Custódia o aguardava, ereta como uma estátua, plantada no meio da sala.
Ao vê-lo, abriu os braços dramaticamente, falou apenas:
- Eu sou a pobreza envergonhada!
Não precisou dizer mais nada: ao olhá-la, ele reconheceu logo que era ela: a própria Pobreza Envergonhada. E a tal certeza nem seria preciso acrescentar-se as explicações, a aflição, as lágrimas com que a pobre se desculpava, envergonhadíssima: perdera o marido, passava necessidade, não tinha outro remédio – escondida das amigas se fizera empregada doméstica! E aquela tinha sido sua oportunidade de reaparecer para elas, justificar seu sumiço... Ele balançava a cabeça, concordando: não se afligisse, estava tudo bem. Concordava mesmo que de vez em quando, ele não estando em casa, evidentemente, voltasse a recebê-las como na véspera, para um chazinho.
O que passou a acontecer dali por diante, sem mais incidentes. E às vezes se acaso regressava mais cedo detinha-se na sala para bater um papo com as velhinhas, a quem já se ia afeiçoando.
Não tão velhinhas que um dia não surgisse uma viúva bem mais conservada, a quem acabou também se afeiçoando, mas de maneira especial. Até que dona Custódia soube, descobriu tudo, ficou escandalizada! Não admitia que uma amiga fizesse aquilo com seu hóspede. E despediu-se, foi-se embora para nunca mais.
Sabino, Fernando. O homem nu. Rio de Janeiro: Record, 1995.
Palavra
As gramáticas classificam as palavras em substantivo, adjetivo, verbo, advérbio, conjunção, pronome, numeral, artigo e preposição. Os poetas classificam as palavras pela alma porque gostam de brincar com elas e para brincar com elas é preciso ter intimidade primeiro. É a alma da palavra que define, explica, ofende ou elogia, se coloca entre o significante e o significado para dizer o que quer, dar sentimento às coisas, fazer sentido. Nada é mais fúnebre do que a palavra fúnebre. Nada é mais amarelo do que o amarelo-palavra. Nada é mais concreto do que as letras c, o, n, c, r, e, t, o, dispostas nessa ordem e ditas dessa forma, assim, concreto, e já se disse tudo, pois as palavras agem, sentem e falam por elas próprias. A palavra nuvem chove. A palavra triste chora. A palavra sono dorme. A palavra tempo passa. A palavra fogo queima. A palavra faca corta. A palavra carro corre. A palavra palavra diz. O que quer. E nunca desdiz depois. As palavras têm corpo e alma mas são diferentes das pessoas em vários pontos. As palavras dizem o que querem, está dito e pronto. As palavras são sinceras, as segundas intenções são sempre das pessoas. A palavra juro não mente. A palavra mando não rouba. A palavra cor não destoa. A palavra sou não vira casaca. A palavra liberdade não se prende. A palavra amor não se acaba. A palavra idéia não muda. Palavras nunca mudam de idéia. Palavras sempre sabem o que querem. Quero não será desisto. Sim jamais será não. Árvore não será madeira. Lagarta não será borboleta. Felicidade não será traição. Tesão nunca será amizade. Sexta-feira não vira sábado nem depois da meia-noite. Noite nunca vai ser manhã. Um não serão dois em tempo algum. Dois não será solidão. Dor não será constantemente. Semente nunca será flor. As palavras também têm raízes, mas não se parecem com plantas, a não ser algumas delas, verde, caule, folha, gota. As células das palavras são as letras. Algumas são mais importantes do que as outras. As consoantes são um tanto insolentes. Roubam as vogais para construírem sílabas e obrigam a língua a dançar dentro. da boca. A boca abre ou fecha quando a vogal manda. As palavras fechadas nem sempre são mais tímidas. A palavra sem-vergonha está aí de prova. Prova é uma palavra difícil. Porta é uma palavra que fecha. Janela é uma palavra que abre. Entreaberto é uma palavra que vaza. Vigésimo é uma palavra bem alta. Carinho é uma palavra que falta. Miséria é uma palavra que sobra. A palavra óculos é séria. Cambalhota é uma palavra engraçada. A palavra lágrima é triste. A palavra catástrofe é trágica. A palavra súbito é rápida. Demoradamente é uma palavra lenta. Espelho é uma palavra prata. Ótimo é uma palavra ótima. Queijo é uma palavra rato. Rato é uma palavra rua. Existem palavras frias como mármore. Existem palavras quentes como sangue. Existem palavras mangue, caranguejo. Existem palavras lusas, Alentejo. Existem palavras itálicas, ciao. Existem palavras grandes, anticonstitucional. Existem palavras pequenas, microscópico, minúsculo, molécula, partícula, quinhão, grão, covardia. Existem palavras dia, feijoada, praia, boné, guarda-sol. Existem palavras bonitas, madrugada. Existem palavras complicadas, enigma, trigonometria, adolescente, casal. Existem palavras mágicas, shazam, abracadabra, pirlimpimpim, sim e não. Existem palavras que dispensam imagens, nunca, vazio, nada, escuridão. Existem palavras sozinhas, eu, um, apenas, sertão. Existem palavras plurais, mais, muito, coletivo, milhão. Existem palavras que são palavrão. Existem palavras pesadas, chumbo, elefante, tonelada. Existem palavras doces, goiabada, marshmallow, quindim, bombom. Existem palavras que andam, automóvel. Existem palavras imóveis, montanha. Existem palavras cariocas, Corcovado. Existem palavras completas, elas todas. Toda palavra tem a cara do seu significado. A palavra pela palavra tirando o seu significado fica estranha. Palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra não diz nada, é só letra e som.
(Falcão, Adriana. Pequeno dicionário de palavras ao vento. São Paulo: Planeta do Brasil, 2003, p.108-10.)
CONTOS AFRICANOS
O Rato e o Caçador
Antigamente havia um caçador que usava armadilhas, abrindo covas no chão. Ele tinha uma mulher que era cega e fizera com ela três filhos.
Um dia, quando visitava as suas armadilhas, encontrou-se com um leão:
__ Bom dia, senhor! Que fazes por aqui no meu território? (perguntou o leão)
__ Ando a ver se as minhas armadilhas apanharam alguma coisa, respondeu o homem.
__ Tu tens de pagar um tributo, pois esta região pertence-me. O primeiro animal que apanhares é teu e o segundo meu e assim sucessivamente.
O homem concordou e convidou o leão a visitar as armadilhas, uma das quais tinha uma
presa __ uma gazela. Conforme o combinado, o animal ficou para o dono das armadilhas.
Passado algum tempo, o caçador foi visitar os seus familiares e não voltou no mesmo dia. A mulher, necessitando de carne, resolveu ir ver se alguma das armadilhas tinha presa. Ao tentar encontrar as armadilhas, caiu numa delas com a criança que trazia ao colo.
O leão que estava à espreita entre os arbustos, viu que a presa era uma pessoa e ficou à espera que o caçador viesse para este lhe entregar o animal, conforme o contrato.
No dia seguinte, o homem chegou a sua casa e não encontrou nem a mulher nem o filho mais novo. Resolveu, então, seguir as pegadas que a sua mulher tinha deixado, que o guiaram até à zona das armadilhas. Quando aí chegou, viu que a presa do dia era a sua mulher e o filho. O leão, lá de longe, exclamou ao ver o homem a aproximar-se:
__ Bom dia amigo! Hoje é a minha vez! A armadilha apanhou dois animais ao mesmo tempo. Já tenho os dentes afiados para os comer!
__ Amigo leão, conversemos sentados. A presa é a minha mulher e o meu filho.
__ Não quero saber de nada. Hoje a caçada é minha, como rei da selva e conforme o combinado; protestou o leão.
De súbito, apareceu o rato.
__ Bom dia titios! O que se passa?_ Disse o pequeno animal.
__ Este homem está a recusar-se a pagar o seu tributo em carne, segundo o combinado.
__ Titio, se concordaram assim, porque não cumpres? Pode ser a tua mulher ou o teu filho, mas deves entregá-los. Deixa isso e vai-te embora, disse o rato ao homem.
Muito contrariado, o caçador retirou-se do local da conversa, ficando o rato, a mulher, o filho e o leão.
__ Ouve, tio leão, nós já convencemos o homem a dar-te as presas. Agora deves-me explicar como é que a mulher foi apanhada. Temos que experimentar como é que esta mulher caiu na armadilha (e levou o leão para perto de outra armadilha).
Ao fazer a experiência, o leão caiu na armadilha.
Então, o rato salvou a mulher e o filho, mandando-os para casa.
A mulher, vendo-se salva de perigo, convidou o rato a ir viver para a sua casa, comendo tudo o que ela e a sua família comiam.
Foi a partir daqui que o rato passou a viver em casa do homem, roendo tudo quanto existe...
Nota: todos nós somos importantes e, para viver, temos de aprender a colaborar uns com os outros..."Eu conto, tu contas, ele conta... Estórias africanas", org. de Aldónio 1999
Todos Dependem da Boca...
Certo dia, a boca, com ar vaidoso, perguntou:
__Embora o corpo seja um só, qual é o órgão mais importante?
Os olhos responderam:
__ O órgão mais importante somos nós: observamos o que se passa e vemos as coisas.
__ Somos nós, porque ouvimos __ disseram os ouvidos.
__ Estão enganados. Nós é que somos mais importantes porque agarramos as coisas, disseram as mãos.
Mas o coração também tomou a palavra:
__ Então e eu? Eu é que sou importante: faço funcionar todo o corpo!
__ E eu trago em mim os alimentos! __ interveio a barriga.
__ Olha! Importante é aguentar todo o corpo como nós, as pernas, fazemos. Estavam nisto quando a mulher trouxe a massa, chamando-os para comer. Então os olhos viram a massa, o coração emocionou-se, a barriga esperou ficar farta, os ouvidos escutavam, as mãos podiam tirar bocados, as pernas andaram... mas a boca recusou comer. E continuou a recusar. Por isso, todos os outros órgãos começaram a ficar sem forças...
Então a boca voltou a perguntar:
__ Afinal qual é o órgão mais importante no corpo?
__ És tu boca, responderam todos em coro. Tu és o nosso rei!
Nota: todos nós somos importantes e, para viver, temos de aprender a colaborar uns com os outros..."Eu conto, tu contas, ele conta... Estórias africanas", org. de Aldónio 1999
Os Griots
Depois de um bom jantar, com a lua brilhando, as pessoas de uma aldeia na África antiga podem ouvir o som de um tambor, chocalho, e uma voz que gritava: "Vamos ouvir, vamos ouvir!" Esses foram os sons do griot, o contador de histórias.
Quando eles ouviram o chamado, as crianças sabiam que estavam indo para ouvir uma história maravilhosa, com música e dança e música! Talvez hoje a história seria sobre Anansi, a aranha. Todo mundo adorava Anansi. Anansi podia tecer as teias mais bonitas. Ele foi quem ensinou o povo de Gana como tecer o pano de lama bonito. Anansi teve uma boa esposa, filhos fortes, e muitos amigos. Ele entrou em muita confusão, e usou sua inteligência e poder do humor de escapar.
Houve outras histórias que o povo gostava de ouvir mais e mais. Algumas histórias eram sobre a história da tribo. Alguns eram grandes guerras e batalhas. Algumas eram sobre a vida cotidiana. Não havia linguagem escrita na África antiga. Os narradores acompanhavam a história do povo.
Havia geralmente apenas um contador de histórias por aldeia. Se uma vila tentava roubar um contador de histórias de outra aldeia, era motivo de guerra! Os contadores de histórias foram importantes. Os griots não eram as únicas pessoas que podiam contar uma história. Qualquer um poderia gritar: "Vamos ouvir, vamos ouvir!" Mas os griots eram os "oficiais" contadores de histórias. O griot aldeia não tem que trabalhar nos campos. Sua tarefa era contar histórias.
Mil anos mais tarde, novas histórias sobre novos triunfos e novas aventuras ainda estão sendo informados pela aldeia pelos Griots.
Fonte: http://africa.mrdonn.org/fables.html
Havia geralmente apenas um contador de histórias por aldeia. Se uma vila tentava roubar um contador de histórias de outra aldeia, era motivo de guerra! Os contadores de histórias foram importantes. Os griots não eram as únicas pessoas que podiam contar uma história. Qualquer um poderia gritar: "Vamos ouvir, vamos ouvir!" Mas os griots eram os "oficiais" contadores de histórias. O griot aldeia não tem que trabalhar nos campos. Sua tarefa era contar histórias.
Mil anos mais tarde, novas histórias sobre novos triunfos e novas aventuras ainda estão sendo informados pela aldeia pelos Griots.
Fonte: http://africa.mrdonn.org/fables.html
Ananse
Ananse, ou Anansi, é uma lenda africana. Conta um caso interessante, no qual no mundo antigo não havia histórias e por isso viver aqui era muito triste.
Houve um tempo em que na Terra não havia histórias para se contar, pois todas pertenciam a Nyame, o Deus do Céu. Kwaku Ananse, o Homem Aranha, queria comprar as histórias de Nyame, o Deus do Céu, para contar ao povo de sua aldeia, então por isso um dia, ele teceu uma imensa teia de prata que ia do céu até o chão e por ela subiu.
Quando Nyame ouviu Ananse dizer que queria comprar as suas histórias, ele riu muito e falou: - O preço de minhas histórias, Ananse, é que você me traga Osebo, o leopardo de dentes terríveis; Mmboro os marimbondos que picam como fogo e Moatia a fada que nenhum homem viu.
Ele pensava que com isso, faria Ananse desistir da idéia, mas ele apenas respondeu: - Pagarei seu preço com prazer, ainda lhe trago Ianysiá, minha velha mãe, sexta filha de minha avó.
Novamente o Deus do Céu riu muito e falou: - Ora Ananse, como pode um velho fraco como você, tão pequeno, tão pequeno, pagar o meu preço?
Mas Ananse nada respondeu, apenas desceu por sua teia de prata que ia do Céu até o chão para pegar as coisas que Deus exigia. Ele correu por toda a selva até que encontrou Osebo, leopardo de dentes terríveis. - Aha, Ananse! Você chegou na hora certa para ser o meu almoço. - O que tiver de ser será - disse Ananse - Mas primeiro vamos brincar do jogo de amarrar? O leopardo que adorava jogos, logo se interessou: - Como se joga este jogo? - Com cipós, eu amarro você pelo pé com o cipó, depois desamarro, aí, é a sua vez de me amarrar. Ganha quem amarrar e desamarrar mais depressa. - disse Ananse. - Muito bem, rosnou o leopardo que planejava devorar o Homem Aranha assim que o amarrasse.
Ananse, então, amarrou Osebo pelo pé, pelo pé e pelo pé, e quando ele estava bem preso, pendurou-o amarrado a uma árvore dizendo: - Agora Osebo, você está pronto para encontrar Nyame o Deus do Céu.
Aí, Ananse cortou uma folha de bananeira, encheu uma cabaça com água e atravessou o mato alto até a casa de Mmboro. Lá chegando, colocou a folha de bananeira sobre sua cabeça, derramou um pouco de água sobre si, e o resto sobre a casa de Mmboro dizendo: - Está chovendo, chovendo, chovendo, vocês não gostariam de entrar na minha cabaça para que a chuva não estrague suas asas? - Muito obrigado, Muito obrigado!, zumbiram os marimbondos entrando para dentro da cabaça que Ananse tampou rapidamente.
O Homem Aranha, então, pendurou a cabaça na árvore junto a Osebo dizendo: - Agora Mmboro, você está pronto para encontrar Nyame, o Deus do Céu.
Depois, ele esculpiu uma boneca de madeira, cobriu-a de cola da cabeça aos pés, e colocou-a aos pés de um flamboyant onde as fadas costumam dançar. À sua frente, colocou uma tigela de inhame assado, amarrou a ponta de um cipó em sua cabeça, e foi se esconder atrás de um arbusto próximo, segurando a outra ponta do cipó e esperou. Minutos depois chegou Moatia, a fada que nenhum homem viu. Ela veio dançando, dançando, dançando, como só as fadas africanas sabem dançar, até aos pés do flamboyant. Lá, ela avistou a boneca e a tigela de inhame. - Bebê de borracha. Estou com tanta fome, poderia dar-me um pouco de seu inhame?
Ananse puxou a sua ponta do cipó para que parecesse que a boneca dizia sim com a cabeça, a fada, então, comeu tudo, depois agradeceu: - Muito obrigada bebê de borracha.
Mas a boneca nada respondeu, a fada, então, ameaçou: - Bebê de borracha, se você não me responde, eu vou te bater.
E como a boneca continuasse parada, deu-lhe um tapa ficando com sua mão presa na sua bochecha cheia de cola. Mais irritada ainda, a fada ameaçou de novo: - Bebê de borracha, se você não me responde, eu vou lhe dar outro tapa."
E como a boneca continuasse parada, deu-lhe um tapa ficando agora, com as duas mãos presas. Mais irritada ainda, a fada tentou livrar-se com os pés, mas eles também ficaram presos. Ananse então, saiu de trás do arbusto, carregou a fada até a árvore onde estavam Osebo e Mmboro dizendo: - Agora Mmoatia, você está pronta para encontrar Nyame o Deus do Céu.
Aí, ele foi a casa de Ianysiá sua velha mãe, sexta filha de sua avó e disse: - Ianysiá venha comigo vou dá-la a Nyame em troca de suas histórias.
Depois, ele teceu uma imensa teia de prata em volta do leopardo, dos marimbondos e da fada, e uma outra que ia do chão até o Céu e por ela subiu carregando seus tesouros até os pés do trono de Nyame. - Ave Nyame! - disse ele -Aqui está o preço que você pede por suas histórias: Osebo, o leopardo de dentes terríveis, Mmboro, os marimbondos que picam como fogo e Moatia a fada que nenhum homem viu. Ainda lhe trouxe Ianysiá minha velha mãe, sexta filha de minha avó.
Ananse, maravilhado, desceu por sua teia de prata levando consigo o baú das histórias até o povo de sua aldeia, e quando ele abriu o baú, as histórias se espalharam pelos quatro cantos do mundo vindo chegar até aqui.
Lenda do tambor africano
Dizem na Guiné que a primeira viagem à Lua foi feita pelo Macaquinho de nariz branco. Segundo dizem, certo dia, os macaquinhos de nariz branco resolveram fazer uma viagem à Lua a fim de traze-la para a Terra. Após tanto tentar subir, sem nenhum sucesso, um deles, dizem que o menor, teve a idéia de subirem uns por cima dos outros, até que um deles conseguiu chegar à Lua.
Porém, a pilha de macacos desmoronou e todos caíram, menos o menor, que ficou pendurado na Lua. Esta lhe deu a mão e o ajudou a subir. A Lua gostou tanto dele que lhe ofereceu, como regalo, um tamborinho. O macaquinho foi ficando por lá, até que começou a sentir saudades de casa e resolveu pedir à Lua que o deixasse voltar.
A Lua o amarrou ao tamborinho para descê-lo pela corda, pedindo a ele que não tocasse antes de chegar à Terra e, assim que chegasse, tocasse bem forte para que ela cortasse o fio.
O Macaquinho foi descendo feliz da vida, mas na metade do caminho, não resistiu e tocou o tamborinho. Ao ouvir o som do tambor a Lua pensou que o Macaquinho houvesse chegado à Terra e cortou a corda. O Macaquinho caiu e, antes de morrer, ainda pode dizer a uma moça que o encontrou, que aquilo que ele tinha era um tamborinho, que deveria ser entregue aos homens do seu país. A moça foi logo contar a todos sobre o ocorrido.
Vieram pessoas de todo o país e, naquela terra africana, ouviam-se os primeiros sons de tambor.
BATALHA
Conta-se que Henrique III, Rei da Inglaterra, durante uma batalha contra os povos Bárbaros invasores, foi ferido gravemente por uma flecha.
Sir Roger, oficial comandante da guarda do Rei, imediatamente informou a situação à comitiva –cavaleiros e conselheiros- do soberano que o acompanhavam naquela campanha.
Em volta do ferido agonizante eles deliberavam.
_ O Rei foi ferido anunciou desesperado Sir Roger.
_Precisamos fazer alguma coisa _ Sir Richard um dos cavaleiros do Rei imediatamente propôs:
_ Antes de qualquer coisa, precisamos saber de onde partiu a flecha do inimigo.
A partir daí todos começaram a discutir:
_ Que tipo de flecha usaram? Ponta de ferro ou de madeira? Foi atirada de baixo para cima ou de cima para baixo?
Houve quem perguntasse qual tipo de pena de pássaro a flecha possuía em sua extremidade.
Todos em volta observavam o Rei que morria com a flecha cravada no peito. Muitos já lamentavam a sorte da batalha e do seu povo sem a liderança do soberano.
Um humilde guerreiro que lutava ao lado do Rei quando este foi ferido e a tudo o observava, aproximou-se do corpo ferido e rapidamente arrancou a flecha, estancando o sangue com um pedaço de pano.
Sem demora fez curativo com plantas medicinais e preparou um chá de ervas recomendando aos conselheiros um local seguro e confortável onde o Rei pudesse se recuperar.
Diante disso o Rei recuperou-se e foi salvo!!!
Por que ele se salvou???
· Porque alguém agiu ao invés de apenas discutir...
· Porque alguém demonstrou coragem e correu risco...
· Porque alguém ousou...
· Porque alguém fez alguma coisa...
Moral da história
Não seja você “um conselheiro do Rei”.
que só gosta de apontar dificuldades
de encontrar culpados, ou discutir a situação.
Seja você aquele alguém que faz alguma coisa
que aponta solução
Que vai a luta e com coragem resolve os problemas...
CAUSO MINEIRO
Sapassado era sessetembro, taveu na cuzinha tomando uma pincumel e cuzinhando um kidicarne cumastumate pra faze uma macarronada cum galinhassada.
Quascaí de susto quanduvi um barui vinde denduforno parecenum tidiguerra.
A receita mandopô midipipoca denda galinha prassá.
O forno isquentô, o mistorô e o fiofó da galinhispludiu!
Nossinhora! Fiquei branco quinein um lidileite. Foi um trem doidimais!
Quascai dendapia!
Fiquei sensabê doncovim, noncotô, proncovô.
Ópcevê quilocura!
Grazadeus ninguém semaxucô!
SEGURO DE AUTOMÓVEL
Carros amigos,
Vocês sabem que hoje em dia o seguro de automóvel é indispensável.
Não podemos deixar nem Uno de nossos Benz à Mercedesses ladrões que fazem
a Fiesta nessa Honda de assaltos.
A Marea tá Brava!
Quem não segura seu automóvel pode se Ferrari e depois só GM pelos cantos, a Ranger os dentes e a Courier de um lado para outro, vigiando a Strada e perguntando "Kadett meu carro?"
Faz a maior Siena e fica Palio deTownervoso!
Aí vai rezar um terço para Santana ajudar!
Mas, isto não Elbastante para ter seu carro de volta.
Seguro é o Tipo de negócio difícil, Mazda para resolver sem ficar com cara de Besta no final.
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Hoje mesmo estamos pagando um seguro de um roubo que ocorreu A3 dias.
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Volvoltar a dizer: faça seguro!
É Clarus que é bom!
Boa Voyage e Pointer final.
P.S.: Se você achou este texto interessante, Cherokee e Mondeo para seus amigos.
DICAS PARA FAZER UM BOM TEXTO:
1. Deve evitar ao máx. a utiliz. de abrev., etc.
2. É desnecessário fazer-se empregar de um estilo de escrita demasiadamente rebuscado. Tal prática advém de esmero excessivo que raia o exibicionismo narcisístico.
3. Anule aliterações altamente abusivas.
4. não esqueça as maiúsculas no início das frases.
5. Evite lugares-comuns como o diabo foge da cruz.
6. O uso de parênteses (mesmo quando for relevante) é desnecessário.
7. Estrangeirismos estão out; palavras de origem portuguesa estão in.
8. Evite o emprego de gíria, mesmo que pareça nice, sacou??… então valeu!
9. Palavras de baixo calão, porra, podem transformar o seu texto numa merda.
10. Nunca generalize: generalizar é um erro em todas as situações.
11. Evite repetir a mesma palavra, pois essa palavra vai ficar uma palavra repetitiva. A repetição da palavra vai fazer com que a palavra repetida desqualifique o texto onde a palavra se encontra repetida.
12. Não abuse das citações. Como costuma dizer um amigo meu: “Quem cita os outros não tem ideias próprias”.
13. Frases incompletas podem causar
14. Não seja redundante, não é preciso dizer a mesma coisa de formas diferentes; isto é, basta mencionar cada argumento uma só vez, ou por outras palavras, não repita a mesma ideia várias vezes.
15. Seja mais ou menos específico.
16. Frases com apenas uma palavra? Jamais!
17. A voz passiva deve ser evitada.
18. Utilize a pontuação corretamente o ponto e a vírgula pois a frase poderá ficar sem sentido especialmente será que ninguém mais sabe utilizar o ponto de interrogação
19. Quem precisa de perguntas retóricas?
20. Conforme recomenda a A.G.O.P, nunca use siglas desconhecidas.
21. Exagerar é cem milhões de vezes pior do que a moderação.
22. Evite mesóclises. Repita comigo: “mesóclises: evitá-las-ei!”
23. Analogias na escrita são tão úteis quanto chifres numa galinha.
24. Não abuse das exclamações! Nunca!!! O seu texto fica horrível!!!!!
25. Evite frases exageradamente longas pois estas dificultam a compreensão da ideia nelas contida e, por conterem mais que uma ideia central, o que nem sempre torna o seu conteúdo acessível, forçam, desta forma, o pobre leitor a separá-la nos seus diversos componentes de forma a torná-las compreensíveis, o que não deveria ser, afinal de contas, parte do processo da leitura, hábito que devemos estimular através do uso de frases mais curtas.
26. Cuidado com a hortografia, para não estrupar a língúa portuguêza.
27. Seja incisivo e coerente, ou não.
28. Não fique escrevendo (nem falando) no gerúndio. Você vai estar deixando seu texto pobre e estar causando ambiguidade, com certeza você vai estar deixando o conteúdo esquisito, vai estar ficando com a sensação de que as coisas ainda estão acontecendo. E como você vai estar lendo este texto, tenho certeza que você vai estar prestando atenção e vai estar repassando aos seus amigos, que vão estar entendendo e vão estar pensando em não estar falando desta maneira irritante.
29. Outra barbaridade que tu deves evitar chê, é usar muitas expressões que acabem por denunciar a região onde tu moras, carajo!… nada de mandar esse trem… vixi… entendeu bichinho?
30. Não permita que seu texto acabe por rimar, porque senão ninguém irá agüentar já que é insuportável o mesmo final escutar, o tempo todo sem parar.
DITADOS POPULARES EM INGLÊS
1. A BIRD IN THE HAND IS WORTH TWO IN THE BUSH.
Melhor um pássaro na mão, do que dois voando.
2. A BLESSING IN DISGUISE.
Há males que vêm para o bem.
3. A BURNT CHILD FEARS THE FIRE.
Gato escaldado tem medo de água fria.
4. A CHAIN IS ONLY AS STRONG AS ITS WEAKEST LINK.
A corda sempre arrebenta no lado mais fraco.
5. A CLOSE MOUTH CATCHES NO FLIES. Boca fechada não entra mosca.
6. A HARD NUT TO CRACK. Osso duro de roer.
7. A MAN IS KNOWN BY THE COMPANY HE KEEPS. Diga com quem anda que direi quem tu és.
8. A PICTURE IS WORTH A THOUSAND WORDS. Uma imagem vale por mil palavras.
9. A WORD TO THE WISE IS ENOUGH. Para bom entendedor, meia palavra basta.
10. ALL GOOD THINGS MUST COME TO AN END. Tudo o que é bom dura pouco.
11. AMONG THE BLIND A ONE-EYED MAN IS KING. Em terra de cego quem tem um olho é rei.
12. AN OUNCE OF PREVENTION IS WORTH A POUND OF CURE. Antes prevenir
do que remediar.
do que remediar.
13. AS THE TWIG IS BENT, SO IS THE TREE INCLINED. Pau que nasce torto
nunca se endireita.
nunca se endireita.
14. BARKING DOGS SELDOM BITE. Cachorro que late não morde.
15. BEAUTY IS NOT IN THE FACE; BEAUTY IS A LIGHT IN THE HEART.
As aparências enganam.
16. BEHIND EVERY GREAT MAN THERE IS A GREAT WOMAN. Atrás de um grande homem há sempre uma grande mulher.
17. BETTER ALONE THAN IN BAD COMPANY. Antes só do que mau acompanhado.
18. BETTER LATE THAN NEVER. Antes tarde do que nunca.
19. BETTER SAFE THAN SORRY. Seguro morreu de velho.
20. BETTER TO ASK THE WAY THAN GO ASTRAY. Quem tem boca vai a Roma.
21. BUSINESS IS BUSINESS. Amigos amigos, negócios à parte.
22. DO NOT JUDGE BY APPEARANCES. Não julgue pelas aparências.
23. LOOKS CAN BE DECEIVING. As aparências enganam.
24. DON'T WASH YOUR DIRTY LINEN IN PUBLIC. Roupa suja se lava em casa.
25. FINDERS KEEPERS, LOSERS WEEPERS. Achado não é roubado.
26. GOOD THINGS COME IN SMALL PACKAGES. Os melhores perfumes estão
nos menores frascos.
27. GOOD THINGS COME TO THOSE WHO WAIT. Quem espera sempre alcança.
28. HASTE IS THE ENEMY OF PERFECTION. A pressa é inimiga da perfeição.
29. HE WAS CAUGHT IN HIS OWN WEB/TRAP. O feitiço virou-se contra o feiticeiro.
30. HE WHO LAUGHS LAST, LAUGHS BEST. Quem ri por último ri melhor.
31. HE WHO LIVES BY THE SWORD, SHALL DIE BY THE SWORD. Quem com o ferro fere com o ferro será ferido.
32. IT’S NO USE CRYING OVER SPILT MILK. Não adianta chorar pelo leite derramado.
33. IT’S TOO GOOD TO BE TRUE. É muito bom para ser verdade.
34. IT'S A DOUBLE-EDGED SWORD. É uma faca de dois gumes.
35. JUSTICE DELAYS, BUT IT DOES NOT FAIL. A justiça tarda, mas não falha.
36. KILL TWO BIRDS WITH ONE STONE. Matar dois coelhos com uma só cajadada.
37. LIFE IS NOT A BED OF ROSES. A vida não é só flores.
38. LOVE IS BLIND. O amor é cego.
39. MAKE A STORM IN A TEACUP. Fazer tempestade em copo d’água.
40. NO ONE IS A PROPHET IN HIS OWN COUNTRY. Santo de casa não faz milagre.
41. NOT ALL THAT GLITTERS IS GOLD. Nem tudo que reluz é ouro.
42. NOTHING VENTURED, NOTHING GAINED. Quem não arrisca não petisca.
43. OPPORTUNITY MAKES THIEVES. A ocasião faz o ladrão.
44. OUT OF SIGHT, OUT OF MIND. Os olhos não vê, coração não sente.
45. PRACTICE MAKES PERFECT. A prática leva a perfeição.
46. SILENCE IMPLIES CONSENT. Quem cala consente.
47. SLOW AND STEADY WINS THE RACE. Devagar se vai longe.
48. THE EARLY BIRD CATCHES THE WORM. Deus ajuda quem cedo madruga.
49. THE LAST WILL BE THE FIRST. Os últimos serão os primeiros.
50. THE ROAD TO HELLIS PAVED WITH GOOD INTENTIONS. De boas intenções
o inferno está cheio.
51. THE ROAD TO SUCCESS IS PAVED WITH FAILURE. É errando que se aprende.
52. THE SQUEAKY WHEEL GETS THE GREASE. Quem não chora não mama.
53. THERE'S NO SMOKE WITHOUT FIRE. Onde há fumaça há fogo.
54. UNITED WE STAND, DIVIDED WE FALL. A união faz a força.
55. WATER DROPPING DAY BY DAY WEARS THE HARDEST ROCK AWAY. Água mole pedra dura tanto bate até que fura.
56. WHEN A THING IS FUNNY, SEARCH IT CAREFULLY FOR A HIDDEN TRUTH. Toda brincadeira tem seu fundo de verdade.
57. WHERE THERE'S A WILL THERE'S A WAY. Querer é poder.
58. WHILE THERE'S LIFE, THERE'S HOPE. A esperança é a última que morre.
59. WHO IS WORSE SHOD THAN THE SHOEMAKER'S WIFE. Em casa de ferreiro o espeto é de pau.
60. YOU CAN'T JUDGE A BOOK BY ITS COVER. Não julgue um livro pela capa.
61. YOU GET WHAT YOU PAY FOR. O barato sai caro.
O CAVALO
Um fazendeiro possuía muitos cavalos que lhe ajudavam no trabalho de sua pequena fazenda. Um dia, um de seus empregados lhe trouxe a notícia, que um de seus cavalos havia caído num velho poço abandonado.
- O buraco é muito fundo e vai ser difícil tirar o animal de lá, disse o empregado.
O fazendeiro foi até o local, avaliou a situação e viu que o cavalo estava ferido, mas ainda vivo pela dificuldade e o alto custo para retirá-lo do fundo do poço, decidiu que não valeria a pena investir no resgate, chamou o capataz, e ordenou que sacrificasse o animal, soterrando-o ali mesmo.
O moço chamou alguns empregados e orientou-os para que jogassem terra sobre o animal, até que o encobrissem totalmente, e o poço não oferecesse mais perigo aos outros, os empregados ficaram com pena do animal, mas seguiram a ordem recebida.
No entanto, um fato estranho ocorria. Na medida que a terra caía sobre o animal, o cavalo se sacudia, derrubava a terra de seu dorso e ia pisando sobre ela.
Logo os homens perceberam que o animal não se deixava soterrar, mas ao contrário, estava subindo à medida que a terra caía, até que finalmente conseguiu sair.
Muitas vezes nós nos sentimos como se estivéssemos no fundo do poço e ainda temos a impressão de que estão querendo nos soterrar para sempre, é como se o mundo jogasse sobre nós a terra da incompreensão, da falta de oportunidade, da desvalorização, do desprezo e da indiferença.
Nesses momentos difíceis é importante lembrar a lição profunda da história do cavalo e fazer a nossa parte, para sair das dificuldades. Não foi isso que fez a baleia em Niterói, lutando bravamente até a morte nos dando uma grande lição?
E se chegarmos ao fundo do poço, só nos restam duas opções: Ou nos servimos dele como ponto de apoio para o impulso que nos levará ao topo, ou nos deixamos ficar ali até que a morte nos encontre.
É importante que, se estamos nos sentindo soterrar, sacudamos a terra e a aproveitamos para subir. Lembre-se, nunca desista! Lute sempre!
O LENHADOR E A RAPOSA
Existiu um lenhador que acordava às 6 da manhã e trabalhava o dia inteiro cortando lenha, e só parava tarde da noite. Esse lenhador tinha um filho, lindo, de poucos meses e uma raposa, sua amiga, tratada como bicho de estimação e de sua total confiança.
Todos os dias o lenhador ia trabalhar e deixava a raposa cuidando de seu filho. Todas as noites ao retornar do trabalho, a raposa ficava feliz com sua chegada. Os vizinhos do lenhador alertavam que a raposa era um bicho, um animal selvagem; e, portanto, não era confiável, quando ela sentisse fome comeria a criança.
O lenhador sempre retrucando com os vizinhos falava que isso era uma grande bobagem. A raposa era sua amiga e jamais faria isso.
Os vizinhos insistiam:
-“Lenhador abra os olhos! A raposa vai comer seu filho.”
-“Quando sentir fome, comerá seu filho!”
Um dia o lenhador muito exausto do trabalho e muito cansado desses comentários
- ao chegar em casa viu a raposa sorrindo como sempre e sua boca totalmente ensangüentada... O lenhador suou frio e sem pensar duas vezes acertou o machado na cabeça da raposa...
Ao entrar no quarto, desesperado, encontrou seu filho no berço dormindo tranqüilamente e ao lado do berço uma cobra morta...
O lenhador enterrou o machado e a raposa juntos.
Se você confia em alguém, já orou e perguntou a Deus sobre isto e Ele confirmou, não importa o que os outros pensam a respeito e siga sempre o que diz seu coração, pois é lá que o Senhor vai falar e lhe mostrar.
Não se deixe influenciar....
HINO DAS MARCAS
Hino Brasileiro escrito por uma grande agência de propaganda.
Num Posto da Ipiranga, às margens plácidas,
De um Volvo heróico Brahma retumbante
Skol da liberdade em Rider fulgido
Brilhou no Shell da Pátria nesse instante
Se o Knorr dessa igualdade
Conseguimos conquistar com braço Ford
Desafio nosso peito à Microsoft
O Parmalat, Mastercard, Sharp, Sharp
Amil um sonho intenso, um rádio Philips
De amor e de Lufthansa terra desce
Intel formoso céu risonho Olympicus
A imagem do Bradesco resplandesce
Gillete pela própria natureza
És belo Escort impávido colosso
E o teu futuro espelha essa Grendene
Cerpa gelada!
Entre outras mil é Suvinil, Compaq amada.
Do Philco deste Sollo és mae Doril
Coca Cola, Bombril!
HOMENS / LIVROS
O Universo é uma imensa livraria. A Terra é apenas uma de suas estantes. Somos os livros colocados nela.
Da mesma maneira que as pessoas compram livros, apenas pela beleza da capa, sem pesquisarem o índice e conteúdo do mesmo, muitas pessoas avaliam os outros pela aparência externa, pela capa física, sem considerarem a parte interna. Outras procuram livros com títulos bombásticos, sensacionalistas histórias de terror ou romances profundos. Também é assim com as pessoas: há aquelas que buscam sensacionalismos baratos, dramas alheios ou apenas um romance. Somos homens-livros lendo uns aos outros. Podemos ficar só na capa ou aprofundarmos nossa leitura até as páginas vivas do coração. A capa pode ser interessante, mas é no conteúdo que brilha a essência do texto.
O corpo pode ter uma bela plástica, mas é o espírito que dá brilho aos olhos. Também podemos ler nas páginas experientes da vida muitos textos de sabedoria.
Depende do que estamos buscando na estante.
Podemos ver em cada homem-livro um texto-espírito impresso nas linhas do corpo.
Deus colocou sua assinatura divina ali, nas páginas do coração, mas só quem lê o interior descobre isso.
Só quem vence as ilusões da capa e mergulha nas páginas da vida íntima de alguém, descobre seu real valor, humano e espiritual.
Que todos nós possamos ser bons leitores conscientes.
Que nas páginas de nossos corações, possamos ler uma história de amor profundo.
Que em nossos espíritos possamos ler uma história imortal.
E que, sendo homens-livros, nós possamos ser leitura interessante e criativa nas várias estantes da livraria-universo.
A capa amassa e as folhas podem rasgar.
Mas, ninguém amassa ou rasga as idéias e sentimentos de uma consciência imortal.
O que não foi bem escrito em uma vida, poderá ser bem escrito mais à frente, em uma próxima existência ou além ...
Mas, com toda certeza, será publicado pela editora da vida, na estante terrestre...
...ou em qualquer outra estante por aí.
Lápis...
O menino olhava a avó escrevendo uma carta. A certa altura perguntou:
-Você está escrevendo uma história que aconteceu Conosco?
-E, por acaso, é uma história sobre mim?
A avó parou a carta, sorriu, e comentou com o neto:
-Estou escrevendo sobre você, é verdade. Entretanto, mais importante do que
as palavras, é o lápis que estou usando.Gostaria que você fosse como ele,
quando crescesse.
O menino olhou para o lápis, intrigado, e não viu nada de especial. E disse:
-Mas ele é igual a todos os lápis que vi em minha vida!
No entanto, a avó respondeu:
Tudo depende do modo como você olha as coisas.
Há cinco qualidades nele que, se você conseguir mantê- las, será sempre uma
pessoa em paz com o mundo :
"Primeira qualidade: você pode fazer grandes coisas, mas não deve esquecer
nunca que existe uma Mão que guia seus passos. Essa mão nós chamamos de
Deus, e Ele deve sempre conduzi-lo em direção à Sua vontade.
"Segunda qualidade: de vez em quando eu preciso parar o que estou
escrevendo, e usar o apontador. Isso faz com que o lápis sofra um pouco, mas
no final, ele está mais afiado. Portanto, saiba suportar algumas dores,
porque elas o farão ser uma pessoa melhor."
"Terceira qualidade: o lápis sempre permite que usemos uma borracha para
apagar aquilo que estava errado. Entenda que corrigir uma coisa que fizemos
não é necessariamente algo mau, mas algo importante para nos manter no
caminho da justiça."
"Quarta qualidade: o que realmente importa no lápis não é a madeira ou sua
forma exterior, mas o grafite que está dentro.Portanto, sempre cuide daquilo
que acontece dentro de você."
"Finalmente, a quinta qualidade do lápis: ele sempre deixa uma marca. Da
mesma maneira, saiba que tudo que você fizer na vida, irá deixar traços, e
procure ser consciente de cada ação."
(PAULO COELHO)
-Você está escrevendo uma história que aconteceu Conosco?
-E, por acaso, é uma história sobre mim?
A avó parou a carta, sorriu, e comentou com o neto:
-Estou escrevendo sobre você, é verdade. Entretanto, mais importante do que
as palavras, é o lápis que estou usando.Gostaria que você fosse como ele,
quando crescesse.
O menino olhou para o lápis, intrigado, e não viu nada de especial. E disse:
-Mas ele é igual a todos os lápis que vi em minha vida!
No entanto, a avó respondeu:
Tudo depende do modo como você olha as coisas.
Há cinco qualidades nele que, se você conseguir mantê- las, será sempre uma
pessoa em paz com o mundo :
"Primeira qualidade: você pode fazer grandes coisas, mas não deve esquecer
nunca que existe uma Mão que guia seus passos. Essa mão nós chamamos de
Deus, e Ele deve sempre conduzi-lo em direção à Sua vontade.
"Segunda qualidade: de vez em quando eu preciso parar o que estou
escrevendo, e usar o apontador. Isso faz com que o lápis sofra um pouco, mas
no final, ele está mais afiado. Portanto, saiba suportar algumas dores,
porque elas o farão ser uma pessoa melhor."
"Terceira qualidade: o lápis sempre permite que usemos uma borracha para
apagar aquilo que estava errado. Entenda que corrigir uma coisa que fizemos
não é necessariamente algo mau, mas algo importante para nos manter no
caminho da justiça."
"Quarta qualidade: o que realmente importa no lápis não é a madeira ou sua
forma exterior, mas o grafite que está dentro.Portanto, sempre cuide daquilo
que acontece dentro de você."
"Finalmente, a quinta qualidade do lápis: ele sempre deixa uma marca. Da
mesma maneira, saiba que tudo que você fizer na vida, irá deixar traços, e
procure ser consciente de cada ação."
(PAULO COELHO)
“Não deixe que a saudade sufoque,
que a rotina acomode,
que o medo impeça de tentar.
Desconfie do destino e acredite em você.
Gaste mais horas realizando
que sonhando,
fazendo que planejando,
vivendo que esperando
porque, embora
quem quase morre esteja vivo,
quem quase vive já morreu.”
Luiz Fernando Veríssimo
CLAREIRAS (MÁRIO QUINTANA)
“COMO É QUE PODE ESCREVER CERTO,
QUEM NÃO SABE AO CERTO
O QUE PROCURA DIZER?”
MILHO DE PIPOCA
A transformação do milho duro em pipoca macia é simbolo da grande transformação por que devem passar os homens para que eles venham a ser o que devem ser.
O milho de pipoca não é o que deve ser.
Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro.
Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro.
O milho de pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer.
Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo.
Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre.
Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre.
Assim acontece com gente. As grandes transformaçoes acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira.
São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosas. Só elas não percebem. Acham que é o seu jeito de ser. Mas, de repente, vem o fogo.
O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos. Dor.
Pode ser o fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente, perder o emprego, ficar pobre.
Pode ser o fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão, sofrimentos cujas causas ignoramos.
Há sempre o recurso do remédio. Apagar o fogo. Sem fogo, o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação. pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pensa que a sua hora chegou: vai morrer.
Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz.
Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo a grande transformação acontece:
Bum!
E ela aparece como uma outra coisa completamente diferente que ela mesma nunca havia sonhado.
Bum!
E ela aparece como uma outra coisa completamente diferente que ela mesma nunca havia sonhado.
Piruá é o milho de pipoca que se recusa a estourar. São aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisas mais maravilhosas do que o jeito delas serem. A sua presunção e o medo são a dura casca que não estoura. O destino delas é triste. Ficarão duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca e macia. Não vão dar alegria a ninguém. Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os piruás que não servem para nada.
Seu destino é o lixo.
Seu destino é o lixo.
E você o que é?
Uma pipoca estourada ou um piruá?
Uma pipoca estourada ou um piruá?
Rubem Alves
Sinônimos
Falar é completamente fácil, quando se tem palavras em mente que expressem sua opinião.
Difícil é expressar por gestos e atitudes o que realmente queremos dizer, ou o quanto queremos dizer, antes que a pessoa se vá.
Difícil é expressar por gestos e atitudes o que realmente queremos dizer, ou o quanto queremos dizer, antes que a pessoa se vá.
Fácil é julgar pessoas que estão sendo expostas pelas circunstâncias.
Difícil é encontrar e refletir sobre os seus erros. Ou tentar fazer diferente algo que já fez muito errado.
Difícil é encontrar e refletir sobre os seus erros. Ou tentar fazer diferente algo que já fez muito errado.
Fácil é ser colega, fazer companhia a alguém, dizer o que ele deseja ouvir.
Difícil é ser amigo para todas as horas e dizer sempre a verdade quando for preciso. E com confiança no que diz.
Difícil é ser amigo para todas as horas e dizer sempre a verdade quando for preciso. E com confiança no que diz.
Fácil é analisar a situação alheia e poder aconselhar sobre esta situação.
Difícil é vivenciar esta situação e saber o que fazer. Ou ter coragem pra fazer.
Difícil é vivenciar esta situação e saber o que fazer. Ou ter coragem pra fazer.
Fácil é demonstrar raiva e impaciência quando algo o deixa irritado.
Difícil é expressar o seu amor a alguém que realmente te conhece, te respeita e te entende. E é assim que perdemos pessoas especiais.
Difícil é expressar o seu amor a alguém que realmente te conhece, te respeita e te entende. E é assim que perdemos pessoas especiais.
Fácil é mentir aos quatro ventos o que tentamos camuflar.
Difícil é mentir para o nosso coração. E como dizia Renato Russo, "mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira..."
Difícil é mentir para o nosso coração. E como dizia Renato Russo, "mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira..."
Fácil é ver o que queremos enxergar.
Difícil é saber que nos iludimos com o que achávamos ter visto. Admitir que nos deixamos levar, mais uma vez, isso é difícil.
Difícil é saber que nos iludimos com o que achávamos ter visto. Admitir que nos deixamos levar, mais uma vez, isso é difícil.
Fácil é dizer "oi" ou "como vai?"
Difícil é dizer "adeus". Principalmente quando somos culpados pela partida de alguém de nossas vidas...
Difícil é dizer "adeus". Principalmente quando somos culpados pela partida de alguém de nossas vidas...
Fácil é abraçar, apertar as mãos, beijar de olhos fechados.
Difícil é sentir a energia que é transmitida. Aquela que toma conta do corpo como uma corrente elétrica quando tocamos a pessoa certa.
Difícil é sentir a energia que é transmitida. Aquela que toma conta do corpo como uma corrente elétrica quando tocamos a pessoa certa.
Fácil é querer ser amado.
Difícil é amar completamente só. Amar de verdade, sem ter medo de viver, sem ter medo do depois. Amar e se entregar. E aprender a dar valor somente a quem te ama
Difícil é amar completamente só. Amar de verdade, sem ter medo de viver, sem ter medo do depois. Amar e se entregar. E aprender a dar valor somente a quem te ama
Fácil é ouvir a música que toca.
Difícil é ouvir a sua consciência. Acenando o tempo todo, mostrando nossas escolhas erradas.
Difícil é ouvir a sua consciência. Acenando o tempo todo, mostrando nossas escolhas erradas.
Fácil é ditar regras.
Difícil é seguí-las. Ter a noção exata de nossas próprias vidas, ao invés de ter noção das vidas dos outros.
Difícil é seguí-las. Ter a noção exata de nossas próprias vidas, ao invés de ter noção das vidas dos outros.
Fácil é perguntar o que deseja saber.
Difícil é estar preparado para escutar esta resposta. Ou querer entender a resposta.
Difícil é estar preparado para escutar esta resposta. Ou querer entender a resposta.
Fácil é chorar ou sorrir quando der vontade.
Difícil é sorrir com vontade de chorar ou chorar de rir, de alegria.
Difícil é sorrir com vontade de chorar ou chorar de rir, de alegria.
Fácil é dar um beijo.
Difícil é entregar a alma. Sinceramente, por inteiro.
Difícil é entregar a alma. Sinceramente, por inteiro.
Fácil é sair com várias pessoas ao longo da vida.
Difícil é entender que pouquíssimas delas vão te aceitar como você é e te fazer feliz por inteiro.
Difícil é entender que pouquíssimas delas vão te aceitar como você é e te fazer feliz por inteiro.
Fácil é ocupar um lugar na caderneta telefônica.
Difícil é ocupar o coração de alguém. Saber que se é realmente amado.
Difícil é ocupar o coração de alguém. Saber que se é realmente amado.
Fácil é sonhar todas as noites.
Difícil é lutar por um sonho.
Difícil é lutar por um sonho.
Você sabe ou você sente?
Você já reparou o quanto as pessoas falam dos outros?
Falam de tudo.
Da moral, do comportamento, dos sentimentos, das reações, dos medos, das imperfeições, dos erros, das criancices, ranzinzices, chatices, mesmices, grandezas, feitos, espantos.
Falam de tudo.
Da moral, do comportamento, dos sentimentos, das reações, dos medos, das imperfeições, dos erros, das criancices, ranzinzices, chatices, mesmices, grandezas, feitos, espantos.
Sobretudo falam do comportamento.
E falam porque supõem saber.
Mas não sabem.
Porque jamais foram capazes de sentir como o outro sente.
Se sentissem não falariam.
Só pode falar da dor de perder um filho, um pai que já perdeu, ou a mãe já ferida por tal amputação de vida.
Dou esse exemplo extremo porque ele ilustra melhor.
As pessoas falam da reação das outras e do comportamento
delas quase sempre sem jamais terem sentido o que elas sentiram.
Dou esse exemplo extremo porque ele ilustra melhor.
As pessoas falam da reação das outras e do comportamento
delas quase sempre sem jamais terem sentido o que elas sentiram.
Mas sentir o que o outro sente não significa sentir por ele.
Isso é masoquismo.
Significa perceber o que ele sente e ser suficientemente forte para ajudá-lo exatamente pela capacidade de não se contaminar com o que o machucou.
Se nos deixarmos contaminar (fecundar?) pelo sentimento que o outro está sentindo, como teremos forças para ajudá-lo?
Só quem já foi capaz de sentir os muitos sentimentos do mundo é capaz de saber algo sobre as outras pessoas e aceitá-las, com tolerância.
Sentir os muitos sentimentos do mundo não é ser uma caixa de sofrimentos.
Isso é ser infeliz.
Sentir os muitos sentimentos do mundo não é ser uma caixa de sofrimentos.
Isso é ser infeliz.
Sentir os muitos sentimentos do mundo é abrir-se a qualquer forma de sentimento.
É analisá-los interiormente, deixar todos os sentimentos de que somos dotados fluir sem barreiras, sem medos, os maus, os bons, os pérfidos, os sórdidos, os baixos, os elevados, os mais puros, os melhores, os santos.
É analisá-los interiormente, deixar todos os sentimentos de que somos dotados fluir sem barreiras, sem medos, os maus, os bons, os pérfidos, os sórdidos, os baixos, os elevados, os mais puros, os melhores, os santos.
Só quem deixou fluir sem barreiras, medos e defesas todos os próprios sentimentos, pode sabê-los, de senti-los no próximo.
Espere florescer a árvore do próprio sentimento.
Vivendo, aceitando as podas da realidade e se possível fecundando.
A verdade é que só sabemos o que já sentimos.
Podemos intuir, perceber, atinar; podemos até, conhecer. Mas saber jamais.
Só se sabe aquilo que já se sentiu.
Só se sabe aquilo que já se sentiu.
Arthur da Távola
UM VENCEDOR
Quando um vencedor comete um erro, diz: "Eu errei!"
Quando um perdedor comete um erro, diz: "Não foi minha culpa."
Quando um perdedor comete um erro, diz: "Não foi minha culpa."
Um vencedor trabalha duro e tem mais tempo.
Um perdedor está sempre "muito ocupado" para fazer o que é necessário.
Um perdedor está sempre "muito ocupado" para fazer o que é necessário.
Um vencedor enfrenta e supera o problema.
Um perdedor dá voltas e nunca consegue resolvê-lo.
Um perdedor dá voltas e nunca consegue resolvê-lo.
Um vencedor se compromete.
Um perdedor faz promessas.
Um perdedor faz promessas.
Um vencedor diz: "Eu sou bom, porém não tão bom como gostaria de ser."
Um perdedor diz: "Eu não sou tão ruim como tantos outros."
Um perdedor diz: "Eu não sou tão ruim como tantos outros."
Um vencedor escuta, compreende e responde.
Um perdedor somente espera uma oportunidade para falar.
Um perdedor somente espera uma oportunidade para falar.
Um vencedor respeita aqueles que são superiores a ele e trata de aprender algo com eles.
Um perdedor resiste àqueles que são superiores a ele e trata de encontrar seus defeitos.
Um perdedor resiste àqueles que são superiores a ele e trata de encontrar seus defeitos.
Um vencedor se sente responsável por algo mais do que somente o seu trabalho.
Um perdedor não colabora e sempre diz: "Eu somente faço o meu trabalho."
Um perdedor não colabora e sempre diz: "Eu somente faço o meu trabalho."
Um vencedor diz: "Deve haver melhor forma de fazê-lo ..."
Um perdedor diz: "Esta é a maneira que sempre fizemos."
Um perdedor diz: "Esta é a maneira que sempre fizemos."
Um vencedor compartilha esta mensagem com os amigos...
Um perdedor guarda-a para si mesmo porque não tem tempo...
Um perdedor guarda-a para si mesmo porque não tem tempo...
TEXTO DE MARIO PRATA
Saudade:
é quando o momento tenta fugir da lembrança para acontecer de novo e não consegue.
é quando o momento tenta fugir da lembrança para acontecer de novo e não consegue.
Lembrança:
é quando, mesmo sem autorização, seu pensamento reapresenta um capítulo.
é quando, mesmo sem autorização, seu pensamento reapresenta um capítulo.
Angústia:
é um nó muito apertado bem no meio do sossego.
é um nó muito apertado bem no meio do sossego.
Preocupação:
é uma cola que não deixa o que ainda não aconteceu sair de seu pensamento.
é uma cola que não deixa o que ainda não aconteceu sair de seu pensamento.
Indecisão:
é quando você sabe muito bem o que quer, mas acha que devia querer outra coisa.
é quando você sabe muito bem o que quer, mas acha que devia querer outra coisa.
Certeza:
é quando a idéia cansa de procurar e para.
é quando a idéia cansa de procurar e para.
Intuição:
é quando seu coração dá um pulinho no futuro e volta rápido.
é quando seu coração dá um pulinho no futuro e volta rápido.
Pressentimento:
é quando passa em você o trailer de um filme que pode ser que nem exista.
é quando passa em você o trailer de um filme que pode ser que nem exista.
Vergonha:
é um pano preto que você quer pra se cobrir naquela hora.
é um pano preto que você quer pra se cobrir naquela hora.
Ansiedade:
é quando sempre faltam muitos minutos para o que quer que seja.
é quando sempre faltam muitos minutos para o que quer que seja.
Interesse:
é um ponto de exclamação ou de interrogação no final do sentimento
é um ponto de exclamação ou de interrogação no final do sentimento
Sentimento:
é a língua que o coração usa quando precisa mandar algum recado.
é a língua que o coração usa quando precisa mandar algum recado.
Raiva:
é quando o cachorro que mora em você mostra os dentes.
é quando o cachorro que mora em você mostra os dentes.
Tristeza:
é uma mão gigante que aperta seu coração.
é uma mão gigante que aperta seu coração.
Felicidade:
é um agora que não tem pressa nenhuma.
é um agora que não tem pressa nenhuma.
Amizade:
é quando você não faz questão de você e se empresta pros outros.
é quando você não faz questão de você e se empresta pros outros.
Culpa:
é quando você cisma que podia ter feito diferente, mas geralmente, não podia.
é quando você cisma que podia ter feito diferente, mas geralmente, não podia.
Lucidez:
é um acesso de loucura ao contrário.
é um acesso de loucura ao contrário.
Razão:
é quando o cuidado aproveita que a emoção está dormindo e assume o mandato.
é quando o cuidado aproveita que a emoção está dormindo e assume o mandato.
Vontade:
é um desejo que cisma que você é a casa dele.
é um desejo que cisma que você é a casa dele.
Paixão:
é quando apesar da palavra "perigo" o desejo chega e entra.
é quando apesar da palavra "perigo" o desejo chega e entra.
Amor:
é quando a paixão não tem outro compromisso marcado.
Não. Amor é um exagero... Também não.
Um dilúvio, um mundaréu, uma insanidade, um destempero, um despropósito, um descontrole, uma necessidade, um desapego?
Talvez porque não tenha sentido, talvez porque não tem explicação,
esse negócio de amor...
é quando a paixão não tem outro compromisso marcado.
Não. Amor é um exagero... Também não.
Um dilúvio, um mundaréu, uma insanidade, um destempero, um despropósito, um descontrole, uma necessidade, um desapego?
Talvez porque não tenha sentido, talvez porque não tem explicação,
esse negócio de amor...
não sei explicar!
SÓ POR HOJE
Só por hoje
vou rasgar os códigos.
Desacato as regras,
a água morna,
os preços módicos.
Só por hoje
desacredito das retas,
descarrilho do trilho,
desvio das setas.
Preciso de tempo pra sonhar,
respirar fundo e carregar na mão
o sal da vida e o mel do mundo.
Se o compromisso tocar a campainha,
peço que aguarde na casa vizinha,
mansamente, sem fazer alarde.
Mas comunico a todos pela imprensa
que sumiu a lucidez.
Pediu licença.
É só por hoje,
mas agora é minha vez.
vou rasgar os códigos.
Desacato as regras,
a água morna,
os preços módicos.
Só por hoje
desacredito das retas,
descarrilho do trilho,
desvio das setas.
Preciso de tempo pra sonhar,
respirar fundo e carregar na mão
o sal da vida e o mel do mundo.
Se o compromisso tocar a campainha,
peço que aguarde na casa vizinha,
mansamente, sem fazer alarde.
Mas comunico a todos pela imprensa
que sumiu a lucidez.
Pediu licença.
É só por hoje,
mas agora é minha vez.
(Flora Figueiredo)
SER JOVEM
Quem não gosta de permanecer jovem?
Ser jovem é amar a vida, cantar a vida, abraçar a vida, perdoando até as pedras das que a vida nos joga em rosto.
Ser jovem é ter altos e baixos, entusiasmos e desalentos. É vibrar com os momentos bons e passar por cima do que nos machuca, com um sorriso fácil apagando os percalços.
Ser jovem é apiedar-se dos mais fracos, não ter vergonha de fazer um sinal da cruz em público, cantarolar uma canção em pleno ônibus. E apreciar uma piada gostosa.
Ser jovem é escrever diário, às vezes. Copiar poesias de amor e remetê-las ao namorado, à namorada, com assinatura própria.
Ser jovem é compadecer-se de quem sofre, com aquela vontade imensa de fazer o milagre da cura, de restituir a saúde àqueles que a gente estima e ama.
Ser jovem é beber um lindo pôr-do- sol, ar livre e noites estreladas. Não se intrometer na vida alheia, fazer silêncios impossíveis, ficar ao lado das crianças, gostar de leitura, Ter ódio de guerra e de ser manipulado. Ser jovem é Ter olhos molhados de esperança e adormecer com problemas, na cer teza de que a solução madrugará no dia seguinte.
Ser jovem é amar a simplicidade, o vento, o perfume das flores, o canto dos pássaros. Ter alegria ao dramático, ao solene. E duvidar das palavras.
Ser jovem é vibrar um gol do time, jogar na loteria esportiva, emocionar-se com filmes de ternura e simpatizar secretamente com alguém que a gente viu só de passagem.
Ser jovem é pla nejar praias no fim do ano, sonhar com um giro pela Europa e uma esti cada pela Disneylândia... algum dia.
Ser jovem é sentir-se um pouco embaraçado diante de estranhos, não perder o hábito de encabular, tremer diante de um exame e detestar gente gritona e resmunguenta. Ser jovem é continuar gostando de deitar na grama, caminhar na chuva, iniciar cursos de inglês e violão, sem jamais terminá-los.
Ser jovem é não dar bola ao que dizem e pensam da gente. Mas irritar-se, quando distorcem nossas melhores intenções.
Ser jovem é aquele desejo de fazer parar o relógio, quando o encontro é feliz, quando a companhia é agradável e a ventura toma conta do nosso ser.
Ser jovem é caminhar firme no chão, à luz dalguma estrela distante.
Ser jovem é avançar de encontro à morte, sem medo da sepultura e do que vem depois.
Ser jovem é permanecer descobrindo, amando, servindo, sem nunca fazer distinção de pessoas.
Ser jovem é olhar a vida de frente, bem nos olhos, saudando cada novo dia, como presente de Deus.
Ser jovem é realimentar o entusiasmo, o sorriso, a esperança, a alegria, a cada amanhecer..
Ser jovem é acreditar um pouco na imortalidade, em vida. É querer a festa, o jogo, a brincadeira, a lua, o impossível.
Ser jovem é ser bêbado de infinitos que terminam logo ali. É só pensar na morte, de vez em quando. É não saber nada e poder tudo.
Ser jovem é gostar de dormir e crer na mudança. É meter o dedo no bolo e lamber o glacê. É cantar fora do tom, mastigando depressa, mas engolir devagar a fala do avô.
Ser jovem é embrulhar as fossas no celofane do não faz mal. É crer no que não vale a pena , mas ai da vida se não fosse assim. Ser jovem é misturar tudo isso com a idade que se tenha, trinta, quarenta, cinqüenta, sessenta, setenta ou dezenove. É sempre abrir a porta com emoção. É abraçar esquinas, mundos, luzes, flores, livros, discos, cachorros e a menininha, com um profundo, aberto e incomensurável abraço feito de festa, dentes brancos e tímidos, todos prontos para os desencontros da vida. Com uma profunda e permanente vontade de ser"
(Artur da Távola)
A SERPENTE E O VAGALUME
Conta a lenda que uma vez uma serpente começou a perseguir um vagalume.
Este fugia rápido, com medo da feroz predadora e a serpente nem pensava em desistir.
Fugiu um dia e ela não desistia, dois dias e nada...
No terceiro dia, já sem forças o vagalume parou e disse a cobra:
-Posso lhe fazer três perguntas?
-Não costumo abrir esse precedente para ninguém, mas já que vou te devorar mesmo, pode poerguntar...
- Pertenço a sua cadeia alimentar?
- Não
-Eu te fiz algum mal?
- Não.
-Então, por que você quer acabar comigo?
- Por que não suporto ver você brilhar ....
Pense nisso e selecione as pessoas em quem confiar
Parábola extraída do Livro de Alberto Brizola
Lição de Criatividade
Um cachorrinho perdido na selva vê um tigre correndo em sua direção. Pensa rápido, vê uns ossos no chão e se põe a mordê-los. Então, quando o tigre está pronto a atacá-lo, o cachorrinho diz:
— Ah, que delícia este tigre que acabo de comer!
O tigre pára bruscamente e sai apavorado correndo do cachorrinho, e no caminho vai pensando:
— Que cachorro bravo! Por pouco não me come a mim também!
Um macaco, que havia visto a cena, sai correndo atrás do tigre e conta como ele tinha sido enganado.
O tigre, furioso, diz: — Cachorro danado! Vai me pagar!
O cachorrinho vê que o tigre vem atrás dele novamente e desta vez traz o macaco montado em suas costas.
Ah, macaco traidor! O que faço agora? Pensou o cachorrinho.
Em vez de sair correndo, ele ficou de costas, como se não tivesse vendo nada. Quando o tigre está a ponto de ataca-lo de novo, o cachorrinho diz:
—Macaco preguiçoso! Faz meia hora que eu mandei me trazer um outro tigre e ele ainda não voltou!
“Em momentos de crise, só a imaginação é mais importante do que o conhecimento”.
Albert Eistein
DAR NÃO É FAZER AMOR
Dar é dar.
Fazer amor é lindo, é sublime, é encantador, é esplêndido.
Mas dar é bom pra cacete.
Dar é aquela coisa que alguém te puxa os cabelos da nuca...
Te chama de nomes que eu não escreveria...
Não te vira com delicadeza...
Não sente vergonha de ritmos animais. Dar é bom.
Melhor do que dar, só dar por dar.
Dar sem querer casar....
Sem querer apresentar pra mãe...
Sem querer dar o primeiro abraço no Ano Novo.
Dar porque o cara te esquenta a coluna vertebral...
Te amolece o gingado...
Te molha o instinto.
Dar porque a vida é estressante e dar relaxa.
Dar porque se você não der para ele hoje, vai dar amanhã, ou depois de amanhã.
Tem pessoas que você vai acabar dando, não tem jeito.
Dar sem esperar ouvir promessas, sem esperar ouvir carinhos, sem
esperar ouvir futuro.
Dar é bom, na hora.
Durante um mês.
Para os mais desavisados, talvez anos.
Mas dar é dar demais e ficar vazio.
Dar é não ganhar.
É não ganhar um eu te amo baixinho perdido no meio do escuro.
É não ganhar uma mão no ombro quando o caos da cidade parece querer te abduzir.
É não ter alguém pra querer casar, para apresentar pra mãe, pra dar
o primeiro abraço de Ano Novo e pra falar:
"Que que cê acha amor?".
É não ter companhia garantida para viajar.
É não ter para quem ligar quando recebe uma boa notícia.
Dar é não querer dormir encaixadinho...
É não ter alguém para ouvir seus dengos...
Mas dar é inevitável, dê mesmo, dê sempre, dê muito.
Mas dê mais ainda, muito mais do que qualquer coisa, uma chance ao amor.
Esse sim é o maior tesão.
Esse sim relaxa, cura o mau humor, ameniza todas as crises e faz você flutuar
Experimente ser amado...
Luís Fernando Veríssimo
MULHERES
"Certo dia parei para observar as mulheres e só pude concluir uma coisa: elas não são humanas. São espiãs. Espiãs de Deus, disfarçadas entre nós.
Pare para refletir sobre o sexto-sentido.
Alguém duvida de que ele exista?
E como explicar que ela saiba exatamente qual mulher, entre as presentes, em uma reunião, seja aquela que dá em cima de você?
E quando ela antecipa que alguém tem algo contra você, que alguém está ficando doente ou que você quer terminar o relacionamento?
E quando ela diz que vai fazer frio e manda você levar um casaco? Rio de Janeiro, 40 graus, você vai pegar um avião pra São Paulo. Só meia-hora de vôo. Ela fala pra você levar um casaco, porque "vai fazer frio". Você não leva. O que acontece?
O avião fica preso no tráfego, em terra, por quase duas horas, depois que você já entrou, antes de decolar. O ar condicionado chega a pingar gelo de tanto frio que faz lá dentro!
"Leve um sapato extra na mala, querido.
Vai que você pisa numa poça..."
Se você não levar o "sapato extra", meu amigo, leve dinheiro extra para comprar outro. Pois o seu estará, sem dúvida, molhado...
O sexto-sentido não faz sentido!
É a comunicação direta com Deus!
Assim é muito fácil...
As mulheres são mães!
E preparam, literalmente, gente dentro de si.
Será que Deus confiaria tamanha responsabilidade a um reles mortal?
E não satisfeitas em ensinar a vida elas insistem em ensinar a vivê-la, de forma íntegra, oferecendo amor incondicional e disponibilidade integral.
Fala-se em "praga de mãe", "amor de mãe", "coração de mãe"...
Tudo isso é meio mágico...
Talvez Ele tenha instalado o dispositivo "coração de mãe" nos "anjos da guarda" de Seus filhos (que, aliás, foram criados à Sua imagem e semelhança).
As mulheres choram. Ou vazam? Ou extravazam?
Homens também choram, mas é um choro diferente. As lágrimas das mulheres têm um não sei quê que não quer chorar, um não sei quê de fragilidade, um não sei quê de amor, um não sei quê de tempero divino, que tem um efeito devastador sobre os homens...
É choro feminino. É choro de mulher...
Já viram como as mulheres conversam com os olhos?
Elas conseguem pedir uma à outra para mudar de assunto com apenas um olhar.
Elas fazem um comentário sarcástico com outro olhar.
E apontam uma terceira pessoa com outro olhar.
Quantos tipos de olhar existem?
Elas conhecem todos...
Parece que freqüentam escolas diferentes das que freqüentam os homens!
E é com um desses milhões de olhares que elas enfeitiçam os homens.
EN-FEI-TI-ÇAM !
E tem mais! No tocante às profissões, por que se concentram nas áreas de Humanas?
Para estudar os homens, é claro!
Embora algumas disfarcem e estudem Exatas...
Nem mesmo Freud se arriscou a adentrar nessa seara. Ele, que estudou, como poucos, o comportamento humano, disse que a mulher era "um continente obscuro".
Quer evidência maior do que essa?
Qualquer um que ama se aproxima de Deus.
E com as mulheres também é assim.
O amor as leva para perto dEle, já que Ele é o próprio amor. Por isso dizem "estar nas nuvens", quando apaixonadas.
É sabido que as mulheres confundem sexo e amor.
E isso seria uma falha, se não obrigasse os homens a uma atitude mais sensível e respeitosa com a própria vida.
Pena que eles nunca verão as mulheres-anjos que têm ao lado.
Com todo esse amor de mãe, esposa e amiga, elas ainda são mulheres a maior parte do tempo.
Mas elas são anjos depois do sexo-amor.
É nessa hora que elas se sentem o próprio amor encarnado e voltam a ser anjos.
E levitam.
Algumas até voam.
Mas os homens não sabem disso.
E nem poderiam.
Porque são tomados por um encantamento
que os faz dormir nessa hora."
Luís Fernando Veríssimo
CHEGOU O VERÃO!
Verão também é sinônimo de pouca roupa e muito chifre, pouca cintura
e muita gordura, pouco trabalho e muita micose.
Verão é picolé de Kisuco no palito reciclado, é milho cozido na água
da torneira, é coco verde aberto pra comer a gosminha branca.
Verão é prisão de ventre de uma semana e pé inchado que não entra no
tênis.
Mas o principal ponto do verão é.... A praia!
Ah, como é bela a praia.
Os cachorros fazem cocô e as crianças pegam pra fazer coleção.
Os casais jogam frescobol e acertam a bolinha na cabeça das véias.
Os jovens de jet ski atropelam os surfistas, que por sua vez, miram a
prancha pra abrir a cabeça dos banhistas.
O melhor programa pra quem vai à praia é chegar bem cedo, antes do
sorveteiro, quando o sol ainda está fraco e as famílias estão
chegando.
Muito bonito ver aquelas pessoas carregando vinte cadeiras, três
geladeiras de isopor, cinco guarda-sóis, raquete, frango, farofa,
toalha, bola, balde, chapéu e prancha, acreditando que estão de
férias.
Em menos de cinqüenta minutos, todos já estão instalados, besuntados
e prontos pra enterrar a avó na areia.
E as crianças? Ah, que gracinhas! Os bebês chorando de desidratação,
as crianças pequenas se socando por uma conchinha do mar, os
adolescentes ouvindo walkman enquanto dormem.
As mulheres também têm muita diversão na praia, como buscar o filho
afogado e caminhar vinte quilômetros pra encontrar o outro pé do
chinelo.
Já os homens ficam com as tarefas mais chatas, como furar a areia pra
fincar o cabo do guarda-sol.
É mais fácil achar petróleo do que conseguir fazer o guarda-sol ficar
em pé.
Mas tudo isso não conta, diante da alegria, da felicidade, da
maravilha que é entrar no mar!
Aquela água tão cristalina, que dá pra ver os cardumes de latinha de
cerveja no fundo.
Aquela sensação de boiar na salmoura como um pepino em conserva.
Depois de um belo banho de mar, com o rego cheio de sal e a periquita
cheia de areia, vem àquela vontade de fritar na chapa.
A gente abre a esteira velha, com o cheiro de velório de bode, bota o
chapéu, os óculos escuros e puxa um ronco bacaninha.
Isso é paz, isso é amor, isso é o absurdo do calor!!!!!
Mas, claro, tudo tem seu lado bom.
E à noite o sol vai embora.
Todo mundo volta pra casa tostado e vermelho como mortadela, toma
banho e deixa o sabonete cheio de areia pro próximo.
O shampoo acaba e a gente acaba lavando a cabeça com qualquer coisa,
desde creme de barbear até desinfetante de privada.
As toalhas, com aquele cheirinho de mofo que só a casa da praia
oferece.
Aí, uma bela macarronada pra entupir o bucho e uma dormidinha na rede
pra adquirir um bom torcicolo e ralar as costas queimadas.
O dia termina com uma boa rodada de tranca e uma briga em família.
Todo mundo vai dormir bêbado e emburrado, babando na fronha e
torcendo, pra que na manhã seguinte, faça aquele sol e todo mundo
possa se encontrar no mesmo inferno tropical...
Luís Fernando Veríssimo
DELEGACIA DE MULHERES
Albir José da Silva
— É aqui, comadre, delegacia de mulheres. Diz que não é que nem as outras não. Aqui eles acreditam. Não ficam rindo da cara da gente, não. Quem atende é mulher também, sabe o que a gente passa.
A comadre era Dona Minervina que foi pedir ajuda, manhã cedo, na sua porta e contou, desesperada, a noite sem dormir.
— Espero, Dorinha, espero.
Há muitos anos, quando o marido Joca ainda era ruim, ela foi numa delegacia reclamar e quase foi presa. Foram logo perguntando "o quê que a senhora fez pra apanhar do seu marido?". Jurou que nunca mais entrava naquele lugar.
— Mas agora é diferente — animou Dorinha. — Tem lei que não pode mais bater. Vamos entrar.
A delegada olha para o rosto sofrido de Dorinha:
— O que foi que ele fez com a senhora?
— Não foi comigo, não. Nem foi o meu marido — que Deus o tenha — que era um homem muito bom. Era difícil ele me bater, sempre cumpriu suas obrigação e ainda me deixou casa e pensão de viúva.
— Então foi a senhora — virou-se para Minervina, não menos sofrida. — Conte o que aconteceu que eu hoje ainda não prendi nenhum covarde que gosta de bater em mulher.
— Também não é comigo, não. O Joca já foi muito safado, me batia duas vezes por semana, mas hoje está diferente.
— Tá mesmo — confirmou Dorinha. — Pode até ter seus casos lá na rua, que isso a gente sabe que tem mesmo, mas nunca mais tirou sangue dela, nem deixou marca pros outros vê.
Acrescentou que se ele ainda dá umas sacudidas nela é tudo dentro de casa, sem escândalo. Além disso, não deixa faltar nada, nem arroz, nem feijão. Ajudou a criar as crianças e dá até presente pros netos.
— É outro homem, hoje, o Seu Joca.
A delegada começa a se mexer na cadeira:
— Então... qual é o problema?
Minervina começa, num tom solene:
— É minha neta Estefânia, que mês passado foi pra Bahia na casa da minha irmã. Pois minha criança chegou ontem pendurada num sujeito de cabelo grande e cheio de trancinha, que arrastava ela, a mala e um tal de berimbau. Chegou perguntando: "E aí, voinha, o que que tem pra comê que eu tô roxo?" Arriou a mala, comeu que nem um boi, foi pro botequim e ficou lá tocando música e dando pernada de capoeira. A mãe de Estefânia, que é uma mosca morta, disse que não podia fazer nada porque a menina gostava dele.
A velha senhora diz que acendeu umas velas pra Santa Rita e foi pra cama ver se conseguia dormir. De madrugada a coisa esquentou:
— O desgraçado passou a noite batendo na menina. E é por isso que eu estou aqui. A senhora tem que tomar uma providência, doutora — e a vovó cruza as mãos sobre a mesa, esperando providências.
A delegada vai perdendo a calma:
— Mas onde está a sua neta? Por que ela não veio? Se foi agredida, deveria estar aqui, tem que fazer exame de corpo de delito. Ela é maior de idade e tem que fazer ela mesma o registro de ocorrência.
— Ah!... mas ela não quer vir. A senhora não sabe o que é mulher enrabichada? Apanha e ainda gosta. De manhã, desceu abraçada com o carrapatento, como se num tivesse acontecido nada. Mas eu sei que ele bateu nela.
A delegada, reunindo um resto de paciência:
— Como é que a senhora sabe? A senhora viu?
— Ver, não vi. Mas escutei. Ela tava gemendo muito, como se tivesse sufocada, com uma voz tremida, inda falou "meu rei, você me mata!"
Minervina conta que ficou desesperada. Subiu correndo as escadas do sobrado e ainda escutou o safado: " morre não, neguinha, cê gosta que eu sei", com aquela voz mole de baiano. E tome mais barulho, parecia que o quarto tava se quebrando todo, a cama batendo na parede. A anciã diz que gritou: "Minha fia, o quê que se assucede?" O barulho parou e a neta enfeitiçada gritou: "Que foi, vovó? Vai dormir, pelo amor do Bonfim!". A avó se desesperou. Aonde chega o feitiço. A bichinha apanha, mas não quer ajuda. Não! Era sua neta! Se não fizesse nada, ela acabava morrendo como se vê todo dia na televisão. E é por isso que estava ali, naquela cadeira.
Acostumada a situações complicadas, a autoridade sente que não está avançando e capricha.
— Dona Minervina, já lhe ocorreu que sua neta podia estar... namorando?
As duas amigas mostram indignação e surpresa:
— Namorando?!
A delegada tenta de novo:
— É... fazendo amor.
Minervina despertou primeiro:
— A senhora apanha quando está namorando?
E Dorinha completou:
— O seu marido bate na hora da saliência? A senhora é polícia e não faz nada?
Na saída, Dorinha ainda houve a reclamação:
— Tá vendo, comadre, sua delegacia de mulher não adiantou nada não. Eu acho que, pra ser preso, só se ele pegar ela de pau.
— Nem assim, comadre. Nem assim.
DEUS MORA NOS DETALHES... [Debora Bottcher]
Eu era muito pequena quando comecei a me embrenhar pela cozinha da fazenda da minha avó enquanto minha mãe e suas irmãs preparavam almoços, jantares, cafés, num interminável movimento na mesa grande de madeira maciça, o fogão à lenha em constante ebulição, chama e fumaça, aventais, colheres de pau e caldeirões, a falação - todas juntas ao mesmo tempo - e muito riso, numa deliciosa intimidade.
Essa é uma das minhas melhores memórias da infância: eu ficava maravilhada com essas cenas de fim de semana, feriados e datas especiais (havia muitas delas, inclusive fora do calendário oficial).
A porta dava para a margem de um rio onde os homens se sentavam para pescar e as crianças normais (meus primos) brincavam numa gritaria (espantando os peixes gerando natural indignação entre os 'pescadores' de plantão) que a mim parecia muito distante - acho que cresci antes da hora, minha inocência voltada para outras descobertas.
Ali, certamente, eu mais atrapalhava que ajudava, querendo sovar o pão, enrolar (e roubar) o brigadeiro, bater o bolo, furar o pernil com um garfo que era maior que eu - tudo ajoelhada no imenso banco de madeira ou pendurada sobre a mesa. Mas ninguém reclamava: eu era o xodó das minhas tias e avó, a única neta loura de olhos azuis (herança do meu pai) - o que, naquela época, encantava uma família onde o castanho e o negro eram soberanos (hoje, é minha sobrinha de quinze anos que ocupa esse lugar, desafiando a morenice do meu irmão e cunhada).
Mas foi assim, nesse tumultuado meio de cheiros e afazeres, que desenvolvi a arte de cozinhar - e bem, modéstia à parte.
Já adulta, descobri que esse é um ofício que, mais do que semear sabores, induz ao agregar: é à mesa onde as pessoas mais se deliciam. Beliscando aqui e ali, o tempo passa, a conversa nunca se desencadeia, somos mais unidos - uma curiosa confraria, o alimento um tesouro.
E durante a vida toda, a qualquer hora que chegam em minha casa, eu ponho a mesa e não há exceções: todo mundo se acomoda em volta dela e se deixa ficar - não importa se distribuo pães e frios ou um manjar dos deuses.
E sempre me surpreendo com a degustação dos que aqui se achegam e dou graças por ter crescido entre mulheres tão encantadoras, que plantaram em mim a semente de, mais do que satisfazer ao paladar, espalhar, entre os que quero bem, a união e o prazer de saciar o corpo e, especialmente, a alma.
Não raro, a gente se pergunta por que veio ao mundo. Se prestar atenção aos detalhes, não escapa de descobrir...
PROVA E RECOMPENSA >> Kika Coutinho
Algumas religiões dizem que a vida é puramente prova e recompensa. Você passa por provações e é recompensado depois. Como na escola: Fez a prova, passou, ganha nota 10 e sai de férias. Simples assim. Não sei se essas religiões estão certas no que diz respeito à vida como um todo, mas, com relação à maternidade, eu diria que acertaram em cheio.
Filho é pura lei de prova e recompensa.
Você passa uma noite em claro com seu bebê. Prova. Das mais duras. Quase amanhecendo e, de repente, ele te abre um sorriso enorme. Recompensa. Pronto.
Você aguenta horas com ela no colo, tentando fazer dormir e se perguntando se essa é a melhor forma, se é isso que a encantadora de bebês recomenda, se foi isso que a sua amiga fez, se era aquilo que a manicure ensinou. Será? Será? Quando consegue, enfim, você deita cansada, se perguntando por que a sua neném não obedece os livros, porque ela é assim, porque eu sou assim, será que um dia isso vai passar, meu Deus, o que vai ser de mim, ela vai acordar daqui a duas horas, socorro. Prova, ai que prova difícil. De repente, ela dorme uma noite toda. Você acorda com um chorinho e já é dia claro, uau, que alegria. Dormiu com a prova e amanheceu com a recompensa.
Você passa dias e dias ensinando o bichinho a mamar no seu peito, sofre com as rachaduras no bico do seio, acha que nunca vai conseguir, até que, um dia, ele puxa direitinho e o peito parou de doer. Melhor ainda quando o pediatra diz que tá engordando super bem. Plim, plim. Recompensa duas vezes.
Você resolve que vai ensinar sua filhota a dormir no berço. Fica lá, ao lado, debruçada, fazendo shh ou cantarolando. Conforme vão passando as horas, vai batendo o desânimo, o sono, o cansaço. Dói a coluna e a consciência: Será que era isso mesmo? Será que não é melhor continuar no colo? Será que pego? Será que saio do quarto? Deixo sozinha, chorando? Prova, prova, prova. De repente, em um instante, ela dorme; profuuundo. Uma alegria vai te invadir, não é? Parabéns: recompensa.
O bebê não faz cocô, chora de cólica, se torce e retorce. Dá-lhe choro, colinho, bolsa de água quente. É madrugada e você está no google: “Cólica + bebê”. Te dói a dor da criança, e o seu cansaço. Vamos tentar a massagem de novo? Shantala, shantala, eu tenho um livro de shantala, onde estava mesmo? Ai, meu reino por um cocô quando: prrrrrrrrr. Eba, recompensa fedida junto com risadinha gostosa.
Choro e sorriso, reclamação e abraço, cansaço e gargalhada. Prova e recompensa. Dor e alegria, desafio e conquista. A primeira febre e a primeira palavra, o primeiro antibiótico e o primeiro passo. Prova e recompensa.
Pode demorar, pode não ser instantâneo, mas a matemática funciona. Ora mais provas, ora mais recompensas. A vida me parece justa, mesmo que seja de madrugada... O dia não tardará em raiar, recompensa à vista...
DESAPEGOS >> Carla Dias >>
Desapegar-se é um processo que envolve dolências, ao menos para mim. Se durante muito tempo cultivei desejos, reverberei afeto por algum projeto ou pessoa, certamente assumir que é hora de deixar passar não é fácil. Entro no dial da catarse, do exorcismo que sempre é a contragosto.
Ao mesmo tempo, é esse meu desjeito para o desapego que vem garantindo que muitos dos meus relacionamentos, em todas as suas vertentes, não desabem por falta de paciência, que é a ciência da descoberta. Porque sei que não sou das pessoas mais fáceis de lidar, que não sei dizer o que escrevo. E nem todos aceitam a importância dos bilhetes.
Desapegar-se da tarde de outubro de 1994, ou do palco mais feliz no qual já estive. Das orlas banhadas pelo mar das dezoito horas e tantos minutos. Da tempestade à mercê de conversa que não temia a fúria da natureza. Dos brincos de quando eu os arquitetava, do cartão da biblioteca precisando de segunda via. Do olhar marejado do moço, azul de um jeito que nem te conto. De momentos colecionados em fotografias.
Desapegar-se não é expulsar da lembrança, mas diminuir o poder dessa lembrança sobre quem somos no agora, colocando-a no lugar que lhe cabe: o passado. Tampouco é se desviar das importâncias que colecionamos vivendo as nossas rotinas.
Desapegar é permitir que as pessoas partam da gente sem que nos sintamos desistindo delas ou de nós mesmos. É abrir mão de planos nos quais despendemos tanto tempo e energia, mas aos quais jamais pertenceu a realização. E não domesticar as desculpas a ponto de torná-las calços de apegos que só fazem ocupar espaço na alma da gente. Espaços que deveriam pertencer ao que chega, ao que nos transforma.
Desapegar-se é como despir-se de alguns sonhos, desentranhar labirintos. Esvaziar-se de expectativas vãs para abrir as janelas de si e deixar que entre: a vida em movimento.
CRÔNICAS DIÁRIAS DOS NOVOS CRONISTAS DO BRASIL.
EU PAREÇO ESCRITOR?
>> Felipe Peixoto Braga Netto
Aconteceu faz uns anos. Ali, naquela livraria do cinema, pertinho da Praça da Liberdade. Ando sozinho pela praça e depois resolvo dar um pulinho despretensioso na livraria. Folheio os livros que estão no balcão principal quando vejo – coração bate mais forte – um cuja capa me parece familiar. Um homem, de costas, sem camisa, com chapéu de palha, entrando no mar, acompanhando por seus dois filhos – um garoto, um pouco mais velho, e uma menina, mais nova, de maiô vermelho.
Deus, é o MEU livro. Acho que nunca o tinha visto assim, não vou negar que senti um raro prazer estranho. Puxei conversa. "E aí, meu velho, como vai? Puxa, entre os títulos principais, hein? E a vida? Anda comendo direito?". Folheio meu filho e vejo que ele está bem, sadio e corado. Com todas as páginas, capa e título intactos. Quem são esses amigos, pergunto?
Depois de resmungar uns monossílabos (filhos não gostam de perguntas de pais), o deixo em paz e continuo o passeio – discretamente, claro, espio de rabo de olho para saber se ele não vai longe (a vida anda perigosa). Não passa um minuto – juro! – e uma menina, nem bonita nem feia, magra, de olhos claros e cabelo preso, entra na pequena livraria. Folheia displicentemente um livro de história da arte bem bonitão, larga e pega quem? Eu sei que o leitor está me olhando torto, com ar de "ah, sei...", mas por Deus que ela pegou "As coisas simpáticas da vida". E passou um tempão com ele na mão, passeando entre suas páginas...
Só nós dois na livraria. Eu a uns três metros dela. Ai meu Deus... Digo ou não digo? O prazer foi embora e em seu lugar chegou – sempre chega – uma antipática dúvida. Que eu faço? Pensei em comprar o exemplar e lhe dar de presente. Seria elegante. Pensei em chegar perto e dizer: "Me disseram que esse livro é horrível". Seria irônico, sabe-se lá aonde isso ia dar. Pensei até: "Olha, você não vai acreditar, mas eu sou o autor". Em carne, osso e modéstia. E nem com identidade eu estava, vejam só como a vida é injusta.
Fernando Sabino reclamava que não tinha cara de escritor. João Ubaldo Ribeiro foi barrado num evento em que daria uma palestra porque não teve jeito da moça da recepção acreditar que ele era ele. Eu tenho certeza que ela acharia que era uma cantada baratíssima e... um dos principais talentos que me falta, mas me falta de modo brutal, é esse de puxar conversa com desconhecidas. Por que, Deus, por quê?
E olha – lá vem o leitor com cara de "hoje em dia se mente tanto..." –, olha que ela, percebendo que eu a estava observando, ficou meio que me olhando, entrava e saía da livraria, entrava de novo, talvez esperando que eu a abordasse, dissesse algo surpreendente e gentil.
Como acaba a história? Ora, leitor, deixa de conversa. Não acaba, claro. Ela foi embora – não comprou o livro – e eu, depois de algum tempo, também.
NÃO DOU E PRONTO
>> Felipe Peixoto Braga Netto
Há quem tenha castelos, ferraris, iates. Eu, que não tenho nada disso, tenho entretanto um bem mais precioso: um vidrinho de pimenta vinda lá de Corinto, da Fazenda do Dr. Paulo Machado. Não me venham com permutas. Não aceito cavalos, nem ações na bolsa, nem mesmo um lugar no paraíso. Quero apenas a companhia humilde e sublime desse vidrinho, pequeno mas tão grande.
Não é uma pimenta, é A pimenta. Ao leitor — que eu sei que não a conhece — manifesto meus sinceros pêsames. O quê? Quer provar? Do meu vidrinho? É fácil: basta passar por cima do meu cadáver. Depois, contratar uma horda de mercenários para vencer a Guarnição dos Cavaleiros Defensores da Essência Sagrada (minha versão dos cavaleiros do Santo Graal) e, claro, enfrentar os jacarés, as pontes elevadas e uns oitocentos e doze cadeados.
Nem sempre ela fica em casa. Às vezes a levo para passear. Comer fora é bom. Gosto muito. Desde que esteja bem acompanhado. Da minha pimentinha, lógico. Perto dela, a comida é um coadjuvante. Até certo ponto irrelevante. Eu, tantas vezes, melhorei comidas medíocres com a danada da pimentinha.
Claro que a saída exige certas precauções. Aparato de segurança. O mundo anda perigoso, e quando descobrirem o que carrego comigo minha vida não ficará fácil. Estou até pensando em me mudar daqui depois dessa crônica. Não estarei localizável, leitor, ninguém me achará.
O Dr. Paulo Machado Vieira mora numa fazenda com magníficos ipês. Deve ter sido isso. Será que há ipês na fórmula? Ou serão as quaresmeiras? Não faça isso, Dr. Paulo, eu sou um homem de fáceis amores. Os ipês já roubaram meus olhos faz tempo. Se a pimentinha tem, na sua sublime fórmula, algo dessas incríveis árvores amarelas, aí já era, entrego os pontos de vez.
O segredo, meus amigos, não dou porque não tenho. Nem tentem me sequestrar. Também, se tivesse, não sei se daria. Quem sai por aí oferecendo sua mulher aos outros? Egoísmo é bom e eu gosto!
CAPITÃO AMÉRICA
(A Verdadeira História)
A.C.Cravo
Que me perdoe o herói das histórias em quadrinhos - que muito alegrou a nossa infância e juventude -, por usar o seu nome para nomear um personagem bem conhecido de todos nós, ou pelo menos da maioria. Quem não tem em seu círculo de amigos pescadores aquele companheiro que é sempre mais eficiente, superior em tudo? Em suas conversas de início de semana, sobejam belas garotas em momentos felizes, dos quais ele desfrutou ao máximo. Quando o assunto é pescaria, ele tem exclamações na ponta da língua, tais como: "O que pegarem eu asso no dedo!", "outro dia peguei um bem maior!", ou ainda esta: "garanto que esse eu não perderia!"
E assim, o Capitão América, anteriormente grande defensor dos fracos e oprimidos, passa a oprimir a nossa paciência com suas histórias em que sempre leva vantagem e tudo dá certo. O material dele é sempre de última geração. As varas são importadas ou montadas especialmente sob encomenda, e dotadas de molinetes ou carretilhas com um grande número de rolamentos, recheadas com o mais fino monofilamento, somente utilizado por ele ou outros "cobras" da pesca esportiva, com os quais não cansa de se comparar. O nosso herói tem ainda especial prazer em alardear suas virtudes "pescatórias", não dando chance a maiores considerações, mesmo que a conversa verse sobre o nosso carro que enguiçou, cinema ou até mesmo futebol. Nesse caso, o time dele será melhor, invariavelmente. E se estiver, porém, em má fase, será na certa por culpa dos árbitros. Dessa maneira, ele segue vivendo de turma em turma, abandonando - segundo ele -, aquelas que na verdade não tiveram mais paciência para aturá-lo ou às suas histórias. Cuidado! Na realidade, ainda existem muitos por aí, embora facilmente identificáveis sob a capa de grandes "garanhões" ou "mestres" no uso de modernos materiais e da linha fina. Para exorcizá-los, no entanto, é suficiente a seguinte frase: Pescamos com vara de bambu e linha 0.80! Se ele resistir, é melhor se afastarem porque virá "Chumbo grosso".
DE HUMOR E DE ESPERANÇA À TERRA DESCE >>> Albir José Inácio da Silva
O bicentenário da chegada da família real ao Brasil reedita os registros sobre esse momento importante de nossa história. A pompa e reverência com que os brasileiros receberam Sua Majestade não estavam isentas de ironia e de um humor nem sempre tão discreto. O monarca bonachão não parecia se importar muito com isso. Aproveitava a lisonja e fingia não ouvir o riso a suas costas.
Daí para cá nenhum governante foi poupado. Alguns seguiram o exemplo de D. João VI, fingiram não entender, e a história do Brasil seguiu seu curso sem maiores traumas. Outros, raivosos, ameaçaram prender e arrebentar. E prenderam e arrebentaram, tingindo de sangue a esperança do jovem país. Mas nem estes calaram o riso.
A ironia , embora pareça passiva, é muitas vezes a resistência possível. Rir da situação opressiva em que se está inserido é rir de si mesmo, mas é também rir do algoz que sabe quão ridículo é o seu comportamento. Ninguém escapa ileso. Mesmo fechadas as urnas e calados os representantes do povo, os opressores sabem que no silêncio das ruas, onde quer que se reúnam duas pessoas, eles estão sendo julgados. É a democracia possível quando esse poder é formalmente usurpado.
Neste país, apesar das ditaduras ridículas, dos governantes ridículos em situações tão trágicas quanto risíveis, nunca puderam os ditadores dormir tranqüilos. A inconfidência jazia até mesmo no sorriso subserviente dos oprimidos. Somos um povo que tem sabido rir de si mesmo e daqueles que nos fazem chorar. É a vingança do oprimido.
É verdade que o riso não nos tem adiantado muito, por exemplo, na economia. Vamos trocando um explorador por outro, Portugal, Inglaterra, Estados Unidos, e nossa gente continua necessitada, por mais que risonha. O que não tem rendido na economia, entretanto, sobeja na literatura. De Machado de Assis a Stanislaw Ponte Preta, a ironia nos tem alimentado em substituição até mesmo ao arroz e feijão. Coisas como o Samba do Crioulo Doido e FEBEAPÁ (Festival de Besteiras que Assola o País) do Stanislaw não têm data. Ou, se correspondem a algum período de nossa história, diria que vai de 1500 a 2008.
D. João não é mais ridículo nem menos herói que qualquer brasileiro. Fez coisas importantes mesmo sem querer. Cometeu erros quando tinha ótimas intenções. Foi ridículo e foi gentil. Não queria vir e depois sofreu porque não queria partir. Traduz o monarca a nossa própria dor que, reciclada em anedotas, vem nos fazer felizes. Felizes, na falta de outro motivo, por habitar esta terra sempre tão cheia de graça - nos dois sentidos.
CASAMENTO
Minha mulher e eu temos o segredo para fazer um casamento durar:
Duas vezes por semana, vamos a um ótimo restaurante, com uma comida gostosa, uma boa bebida e um bom companheirismo. Ela vai às terças-feiras e eu, às quintas.
Nós também dormimos em camas separadas: a dela é em Fortaleza e a minha, em SP.
Eu levo minha mulher a todos os lugares, mas ela sempre acha o caminho de volta.
Perguntei a ela onde ela gostaria de ir no nosso aniversário de casamento, "em algum lugar que eu não tenha ido há muito tempo!" ela disse. Então, sugeri a cozinha.
Nós sempre andamos de mãos dadas...
Se eu soltar, ela vai às compras!
Ela tem um liquidificador, uma torradeira e uma máquina de fazer pão, tudo elétrico.
Então, ela disse: "nós temos muitos aparelhos, mas não temos lugar pra sentar".
Daí, comprei pra ela uma cadeira elétrica.
Lembrem-se: o casamento é a causa número 1 para o divórcio. Estatisticamente, 100 % dos divórcios começam com o casamento. Eu me casei com a "senhora certa".
Só não sabia que o primeiro nome dela era "sempre".
Já faz 18 meses que não falo com minha esposa. É que não gosto de interrompê-la.
Mas, tenho que admitir: a nossa última briga foi culpa minha.
Ela perguntou: "O que tem na TV?"
E eu disse: "Poeira".
ABORRESCENTE
Ela já estava ficando doidinha com aquela garotada. O pessoal não dava mole. Aborrescente em idade de ir para a balada era complicado, um saco. A menina sempre reclamava que a roupa era isso, que a roupa estava aquilo e que o tênis estava assim ou assado. Colaborar em casa que é bom, nada! Sem falar no telefone. É um absurdo o que essa molecada fala no telefone, eles passam semanas como telefone pregado na cara parece até que já nasceram com um celular na orelha, haja babado prá colocar em dia. Afff!.....
Sábado a noite era o Ó. Era um tal de falar com uma gatinha aqui, ficar com a outra ali, enfim uma bagunça geral. Pô no meu tempo a parada era mais simples era namoro ou não e pronto. Não tinha esse lance de ficar. Ficar, ficar o quê? Na verdade ela nunca entendeu muito bem esse novo modo que os jovens encontraram para se relacionar, ficar? Tinha ficado sim. Ficado uma bagunça só. Pensava ela.
Ficando ou não sempre sobrava prá ela. Um pedia para levar ali, o outro acolá a outra pedia para buscar às quatro da matina. Era um sufoco só! Aqueles três aborrecentes, apesar de serem os amores da vida dela, davam uma canseira até em maratonista.
Sem contar o lado da grana. A galera ia crescendo e junto cresciam as despesas. Sempre tinha um que, quando pintava a necessidade mandava um sonoro:
- Ô veia! Libera uma grana aê.
- Que véia ô menino? Isso lá é jeito de falar com a sua mãe. E tem mais: você pensa que dinheiro dá em árvore, cai do céu ou que eu trabalho no Banco do Brasil?
- Êita! Ta vendo? Tá ficando véia mesmo. Você não trabalha no Banco do Brasil sua tonta?
-IIIh! É verdade. Vocês estão me deixando maluca...
Sábado a noite era o Ó. Era um tal de falar com uma gatinha aqui, ficar com a outra ali, enfim uma bagunça geral. Pô no meu tempo a parada era mais simples era namoro ou não e pronto. Não tinha esse lance de ficar. Ficar, ficar o quê? Na verdade ela nunca entendeu muito bem esse novo modo que os jovens encontraram para se relacionar, ficar? Tinha ficado sim. Ficado uma bagunça só. Pensava ela.
Ficando ou não sempre sobrava prá ela. Um pedia para levar ali, o outro acolá a outra pedia para buscar às quatro da matina. Era um sufoco só! Aqueles três aborrecentes, apesar de serem os amores da vida dela, davam uma canseira até em maratonista.
Sem contar o lado da grana. A galera ia crescendo e junto cresciam as despesas. Sempre tinha um que, quando pintava a necessidade mandava um sonoro:
- Ô veia! Libera uma grana aê.
- Que véia ô menino? Isso lá é jeito de falar com a sua mãe. E tem mais: você pensa que dinheiro dá em árvore, cai do céu ou que eu trabalho no Banco do Brasil?
- Êita! Ta vendo? Tá ficando véia mesmo. Você não trabalha no Banco do Brasil sua tonta?
-IIIh! É verdade. Vocês estão me deixando maluca...
TEORIA DA PIPOCA NO CINEMA
A venda de pipocas em cinema é, sem dúvida, um dos negócios com a maior taxa de rentabilidade do mundo. Gostaria de entender a estrutura de custos dos executivos envolvidos no mercado de pipocas para chegar a um valor final de venda tão alto.
Assim como Seinfeld dizia que o mercado de aviação gira em torno de vender sanduíches nos aeroportos por preços astronômicos, acho que toda a indústria milionária do cinema gira em torno de vender pipocas. Super astros, efeitos especiais e roteiros criativos são apenas artifícios para aumentar o consumo de pipocas.
E para aumentar ainda mais a margem de lucro, eles ainda aplicam o golpe do gelo, que consiste em ocupar o copo do refrigerante com muito gelo para que caiba a mínima quantidade de refrigerante. É por isso que os copos de refrigerante têm aquela tampinha só com o buraco do canudo: o objetivo é esconder o excesso de gelo.
Considerações em torno das aves-balas
Ivan Ângelo
Balas perdidas transformam-se em notícia por todo o país.
Desde que isso começou — não faz muito tempo, nem pouco — mais de uma centena de pessoas foram atingidas só na cidade do Rio de Janeiro. Em São Paulo não se conta, ou perde-se a conta. Em Belo Horizonte, elas sinistramente trabalham em silêncio. Em Salvador são abafadas pelo baticum dos tambores. Sem nenhum bairrismo elas voam geral, irrompem num circo, num ônibus, numa janela de sala de estar, numa padaria, em muitas escolas, numa praça, num banco, numa rua e se alojam num corpo. Aí se livram da sua característica principal — a de perdidas — e se acham, são achadas.
Por que se diz perdida? Perdida é a bala que não se encontra nunca, são as que voam até perder a força e tombam, exaustas e sem glórias de Jornal Nacional, num mato qualquer.
A bala perdida: quem a perdeu? A linguagem tem sempre uma lógica. Quem perdeu a bala perdida? O atirador? Pior para quem a achou.
Uma pessoa quando perdida, não tem rumo. Se diz: desorientada. Uma bala não. A bala perdida segue reta e veloz como quem sabe aonde vai. Igualzinho às outras, suas irmãs, que levam endereço certo.
Perdida, então quer dizer o quê? Desperdiçada? A linguagem nem sempre tem lógica. Quem perdeu a bala perdida? O atirador? Pior para quem achou.
Quando acha um corpo a bala pode ainda se chamar perdida? A que acha, mesmo não sendo aquele corpo que buscava, será menos desperdiçada do que as outras, que esbarram em uma simples parede?
Ninguém procura balas perdidas. Nem quem as perdeu, nem quem as encontrou, sem querer. São indesejadas, e quanto mais o sejam, mais ansiosas parecem por alojar-se. Essas balas voadoras, libertas da sua casca, só são realmente perdidas se ninguém nunca mais as viu. Então são também inúteis, pois isso é a negação da sua essência mortal.
Uma bala, quando útil, fere, mata. É criadora: cria órfãos, viúvas, pais inconsoláveis. Quem a dispara sabe disso. Quem fabrica e vende sabe disso. Quem recolhe impostos sobre ela sabe muito bem. Porque ela não serve para mais nada, para isso foi feita.
Seria próprio chamar de desaparecidas essas inúteis? No país das balas perdidas, perdem-se também crianças, chamadas desaparecidas. Mas esta já é outra história.
Não, a essas balas não se poderia chamar de desaparecidas porque ninguém sabia delas antes de se libertarem de sua casca, ainda pacíficas, guardando para si sua capacidade voadora e mortal. Só depois que explodem é que voam, e então se perdem ou não.
O poeta João Cabral de Melo Neto deu um lindo nome a essas balas sem dono: ave-bala. No poema “Morte e vida Severina”, o retirante pergunta aos que levam um defunto: “Quem contra ele soltou / essa ave-bala”. E a resposta: “Ali é difícil dizer / Irmão das almas, / Sempre há uma bala voando / desocupada”.
Éramos um povo acostumado à arma branca, à peixeira, ao punhal, ao facão; herdamos a tradição ibérica de sangrar, cortar o pescoço, capar. Meninos já tinham seu canivete de ponta. Malandros riscavam o ar com navalhas. Mulheres da vida brandiam giletes. Numa arruaça, quem metia a mão numa cara, dava rasteiras. Em algum momento o “te meto a faca” virou “te meto a bala”, aquele “te meto a mão na cara” virou “te meto uma bala na cara”. Começaram a voar as aves-balas.
O que aconteceu no meio? Talvez o cinema, o faroeste, os gangsters, a TV, guerras sujas, guerrilhas, terrorismo, drogas proibidas. Nasceu o culto da pontaria certeira. Billy the Kid, John Wayne, Randolph Scott, Frank e Jesse James, Schwarzenegger, Stalone, Matrix. “No século do progresso / o revólver teve ingresso / pra acabar com a valentia” — cantou Noel Rosa nos anos 1930. Surgiu outro tipo de valente, o que fica atrás do revólver. Não é preciso arriscar-se, chegar perto para ferir. “Mais garantido é de bala / Mais longe fere”, diz o poeta João Cabral. Ninguém pense que a influência estrangeira é justificativa. Não, não importamos a violência, ela é mais nossa que o petróleo. Importamos foi a cultura da arma de fogo.
No país das balas perdidas, perdem-se também crianças, nem sempre desaparecidas. Muitas delas, talvez a maioria, vão mais tarde brincar por aí de soltar aves-balas, nem sempre perdidas.
O comprador de aventuras e outras crônicas. São Paulo: Ática, 2000. Coleção Para Gostar de Ler, v. 28.
O amor acaba
Paulo Mendes Campos
O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão; às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro de casa o amor pode acabar; na epifania¹ da pretensão ridícula dos bigodes; nas ligas, nas cintas, nos brincos e nas silabadas femininas; quando a alma se habitua às províncias empoeiradas da Ásia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar; na compulsão da simplicidade simplesmente; no sábado, depois de três goles mornos de gim à beira da piscina; no filho tantas vezes semeado, às vezes vingado por alguns dias, mas que não floresceu, abrindo parágrafos de ódio inexplicável entre o pólen e o gineceu de duas flores; em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas, onde há mais encanto que desejo; e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, caindo imperceptível no beijo de ir e vir; em salas esmaltadas com sangue, suor e desespero; nos roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus, ida e volta de nada para nada; em cavernas de sala e quarto conjugados o amor se eriça e acaba; no inferno o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brasília o amor pode virar pó; no Rio, frivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que chegou antes, e o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes; e muitas vezes acaba em ouro e diamante, dispersado entre astros; e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova Iorque; no coração que se dilata e quebra, e o médico sentencia imprestável para o amor; e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos, até se desfazer em mares gelados; e acaba depois que se viu a bruma que veste o mundo; na janela que se abre, na janela que se fecha; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo; às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba.
1. No sentido literário, epifania é um momento privilegiado de revelação quando ocorre um evento que “ilumina” a vida da personagem.
O amor acaba - Crônicas líricas e existenciais. 2ª- ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.
A arte de ser avó
Rachel de Queiroz
Netos são como heranças: você os ganha sem merecer. Sem ter feito nada para isso, de repente lhe caem do céu. É, como dizem os ingleses, um ato de Deus. Sem se passarem as penas do amor, sem os compromissos do matrimônio, sem as dores da maternidade. E não se trata de um filho apenas suposto, como o filho adotado: o neto é realmente o sangue do seu sangue, filho de filho, mais filho que o filho mesmo...
Quarenta anos, quarenta e cinco... Você sente, obscuramente, nos seus ossos, que o tempo passou mais depressa do que esperava. Não lhe incomoda envelhecer, é claro. A velhice tem suas alegrias, as suas compensações - todos dizem isso, embora você, pessoalmente, ainda não as tenha descoberto - mas acredita.
Todavia, também obscuramente, também sentida nos seus ossos, às vezes lhe dá aquela nostalgia da mocidade. Não de amores nem de paixões: a doçura da meia-idade não lhe exige essas efervescências. A saudade é de alguma coisa que você tinha e lhe fugiu sutilmente junto com a mocidade. Bracinhos de criança no seu pescoço. Choro de criança. O tumulto da presença infantil ao seu redor. Meu Deus, para onde foram as suas crianças? Naqueles adultos cheios de problemas que hoje são os filhos, que têm sogro e sogra, cônjuge, emprego, apartamento a prestações, você não encontra de modo nenhum as suas crianças perdidas. São homens e mulheres - não são mais aqueles que você recorda.
E então, um belo dia, sem que lhe fosse imposta nenhuma das agonias da gestação ou do parto, o doutor lhe põe nos braços um menino. Completamente grátis - nisso é que está a maravilha. Sem dores, sem choros, aquela criancinha da sua raça, da qual você morria de saudades, símbolo ou penhor da mocidade perdida. Pois aquela criancinha, longe de ser um estranho, é um menino seu que lhe é “devolvido”. E o espantoso é que todos lhe reconhecem o seu direito de o amar com extravagância; ao contrário, causaria escândalo e decepção se você não o acolhesse imediatamente com todo aquele amor recalcado que há anos se acumulava, desdenhado, no seu coração.
Sim, tenho certeza de que a vida nos dá os netos para nos compensar de todas as mutilações trazidas pela velhice. São amores novos, profundos e felizes, que vêm ocupar aquele lugar vazio, nostálgico, deixados pelos arroubos juvenis.
[...]
E quando você vai embalar o menino e ele, tonto de sono, abre um olho, lhe reconhece, sorri e diz: “Vó!”, seu coração estala de felicidade, como pão ao forno.
[...]
Até as coisas negativas se viram em alegrias quando se intrometem entre avó e neto: o bibelô de estimação que se quebrou porque o menininho - involuntariamente! - bateu com a bola nele. Está quebrado e remendado, mas enriquecido com preciosas recordações: os cacos na mãozinha, os olhos arregalados, o beiço pronto para o choro; e depois o sorriso malandro e aliviado porque “ninguém” se zangou, o culpado foi a bola mesmo, não foi, Vó? Era um simples boneco que custou caro. Hoje é relíquia: não tem dinheiro que pague...
Elenco de cronistas modernos. 21ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2005.
A bola
Luis Fernando Verissimo
O pai deu uma bola de presente ao filho. Lembrando o prazer que sentira ao ganhar a sua primeira bola do pai. Uma número 5 sem tento oficial de couro. Agora não era mais de couro, era de plástico. Mas era uma bola.
O garoto agradeceu, desembrulhou a bola e disse “Legal!”. Ou o que os garotos dizem hoje em dia quando gostam do presente ou não querem magoar o velho. Depois começou a girar a bola, à procura de alguma coisa.
— Como e que liga? — perguntou.
— Como, como é que liga? Não se liga.
O garoto procurou dentro do papel de embrulho.
— Não tem manual de instrução?
O pai começou a desanimar e a pensar que os tempos são outros. Que os tempos são decididamente outros.
— Não precisa manual de instrução.
— O que é que ela faz?
— Ela não faz nada. Você é que faz coisas com ela.
— O quê?
— Controla, chuta...
— Ah, então é uma bola.
— Claro que é uma bola.
— Uma bola, bola. Uma bola mesmo.
— Você pensou que fosse o quê?
— Nada, não.
O garoto agradeceu, disse “Legal” de novo, e dali a pouco o pai o encontrou na frente da tevê, com a bola nova do lado, manejando os controles de um videogame. Algo chamado Monster Baú, em que times de monstrinhos disputavam a posse de uma bola em forma de bip eletrônico na tela ao mesmo tempo que tentavam se destruir mutuamente.
O garoto era bom no jogo. Tinha coordenação e raciocínio rápido. Estava ganhando da máquina.
O pai pegou a bola nova e ensaiou algumas embaixadas. Conseguiu equilibrar a bola no peito do pé, como antigamente, e chamou o garoto.
— Filho, olha.
O garoto disse “Legal”, mas não desviou os olhos da tela. O pai segurou a bola com as mãos e a cheirou, tentando recapturar mentalmente o cheiro de couro. A bola cheirava a nada. Talvez um manual de instrução fosse uma boa ideia, pensou. Mas em inglês, para a garotada se interessar.
Comédias para ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
Ser brotinho
Paulo Mendes Campos
Ser brotinho não é viver em um píncaro azulado: é muito mais! Ser brotinho é sorrir bastante dos homens e rir interminavelmente das mulheres, rir como se o ridículo, visível ou invisível, provocasse uma tosse de riso irresistível.
Ser brotinho é não usar pintura alguma, às vezes, e ficar de cara lambida, os cabelos desarrumados como se ventasse forte, o corpo todo apagado dentro de um vestido tão de propósito sem graça, mas lançando fogo pelos olhos. Ser brotinho é lançar fogo pelos olhos.
É viver a tarde inteira, em uma atitude esquemática, a contemplar o teto, só para poder contar depois que ficou a tarde inteira olhando para cima, sem pensar em nada. É passar um dia todo descalça no apartamento da amiga comendo comida de lata e cortar o dedo. Ser brotinho é ainda possuir vitrola própria e perambular pelas ruas do bairro com um ar sonso-vagaroso, abraçada a uma porção de elepês coloridos. É dizer a palavra feia precisamente no instante em que essa palavra se faz imprescindível e tão inteligente e superior. É também falar legal e bárbaro com um timbre tão por cima das vãs agitações humanas, uma inflexão tão certa de que tudo neste mundo passa depressa e não tem a menor importância.
Ser brotinho é poder usar óculos enormes como se fosse uma decoração, um adjetivo para o rosto e para o espírito. É esvaziar o sentido das coisas que os coroas levam a sério, mas é também dar sentido de repente ao vácuo absoluto. Aguardar na paciente geladeira o momento exato de ir à forra da falsa amiga. É ter a bolsa cheia de pedacinhos de papel, recados que os anacolutos tornam misteriosos, anotações criptográficas sobre o tributo da natureza feminina, uma cédula de dois cruzeiros com uma sentença hermética escrita a batom, toda uma biografia esparsa que pode ser atirada de súbito ao vento que passa. Ser brotinho é a inclinação do momento.
É telefonar muito, demais, revirando-se no chão como dançarina no deserto estendida no chão. É querer ser rapaz de vez em quando só para vaguear sozinha de madrugada pelas ruas da cidade. Achar muito bonito um homem muito feio; achar tão simpática uma senhora tão antipática. É fumar quase um maço de cigarros na sacada do apartamento, pensando coisas brancas, pretas, vermelhas, amarelas.
Ser brotinho é comparar o amigo do pai a um pincel de barba, e a gente vai ver está certo: o amigo do pai parece um pincel de barba. É sentir uma vontade doida de tomar banho de mar de noite e sem roupa, completamente. É ficar eufórica à vista de uma cascata. Falar inglês sem saber verbos irregulares. É ter comprado na feira um vestidinho gozado e bacanérrimo.
É ainda ser brotinho chegar em casa ensopada de chuva, úmida camélia, e dizer para a mãe que veio andando devagar para molhar-se mais. É ter saído um dia com uma rosa vermelha na mão, e todo mundo pensou com piedade que ela era uma louca varrida. É ir sempre ao cinema, mas com um jeito de quem não espera mais nada desta vida. É ter uma vez bebido dois gins, quatro uísques, cinco taças de champanha e uma de cinzano sem sentir nada, mas ter outra vez bebido só um cálice de vinho do Porto e ter dado um vexame modelo grande. É o dom de falar sobre futebol e política como se o presente fosse passado, e vice-versa.
Ser brotinho é atravessar de ponta a ponta o salão da festa com uma indiferença mortal pelas mulheres presentes e ausentes. Ter estudado ballet e desistido, apesar de tantos telefonemas de Madame Saint-Quentin. Ter trazido para casa um gatinho magro que miava de fome e ter aberto uma lata de salmão para o coitado. Mas o bichinho comeu o salmão e morreu. É ficar pasmada no escuro da varanda sem contar para ninguém a miserável traição. Amanhecer chorando, anoitecer dançando. É manter o ritmo na melodia dissonante. Usar o mais caro perfume de blusa grossa e blue-jeans. Ter horror de gente morta, ladrão dentro de casa, fantasmas e baratas. Ter compaixão de um só mendigo entre todos os outros mendigos da Terra. Permanecer apaixonada a eternidade de um mês por um violinista estrangeiro de quinta ordem. Eventualmente, ser brotinho é como se não fosse, sentindo-se quase a cair do galho, de tão amadurecida em todo o seu ser. É fazer marcação cerrada sobre a presunção incomensurável dos homens. Tomar uma pose, ora de soneto moderno, ora de minueto, sem que se dissipe a unidade essencial. É policiar parentes, amigos, mestres e mestras com um ar songamonga de quem nada vê, nada ouve, nada fala.
Ser brotinho é adorar. Adorar o impossível. Ser brotinho é detestar. Detestar o possível. É acordar ao meio-dia com uma cara horrível, comer somente e lentamente uma fruta meio verde, e ficar de pijama telefonando até a hora do jantar, e não jantar, e ir devorar um sanduíche americano na esquina, tão estranha é a vida sobre a Terra.
O cego de Ipanema. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1960.
Um caso de burro
Machado de Assis
Quinta-feira à tarde, pouco mais de três horas, vi uma coisa tão interessante, que determinei logo de começar por ela esta crônica. Agora, porém, no momento de pegar na pena, receio achar no leitor menor gosto que eu para um espetáculo, que lhe parecerá vulgar, e porventura torpe. Releve a importância; os gostos não são iguais.
Entre a grade do jardim da Praça Quinze de Novembro e o lugar onde era o antigo passadiço, ao pé dos trilhos de bondes, estava um burro deitado. O lugar não era próprio para remanso de burros, donde concluí que não estaria deitado, mas caído. Instantes depois, vimos (eu ia com um amigo), vimos o burro levantar a cabeça e meio corpo. Os ossos furavam-lhe a pele, os olhos meio mortos fechavam-se de quando em quando. O infeliz cabeceava, mais tão frouxamente, que parecia estar próximo do fim.
Diante do animal havia algum capim espalhado e uma lata com água. Logo, não foi abandonado inteiramente; alguma piedade houve no dono ou quem quer que seja que o deixou na praça, com essa última refeição à vista. Não foi pequena ação. Se o autor dela é homem que leia crônicas, e acaso ler esta, receba daqui um aperto de mão. O burro não comeu do capim, nem bebeu da água; estava já para outros capins e outras águas, em campos mais largos e eternos.
Meia dúzia de curiosos tinha parado ao pé do animal. Um deles, menino de dez anos, empunhava uma vara, e se não sentia o desejo de dar com ela na anca do burro para espertá-lo, então eu não sei conhecer meninos, porque ele não estava do lado do pescoço, mas justamente do lado da anca. Diga-se a verdade; não o fez — ao menos enquanto ali estive, que foram poucos minutos. Esses poucos minutos, porém, valeram por uma hora ou duas. Se há justiça na Terra valerão por um século, tal foi a descoberta que me pareceu fazer, e aqui deixo recomendada aos estudiosos.
O que me pareceu, é que o burro fazia exame de consciência. Indiferente aos curiosos, como ao capim e à água, tinha no olhar a expressão dos meditativos. Era um trabalho interior e profundo. Este remoque popular: por pensar morreu um burro mostra que o fenômeno foi mal entendido dos que a princípio o viram; o pensamento não é a causa da morte, a morte é que o torna necessário. Quanto à matéria do pensamento, não há dúvidas que é o exame da consciência. Agora, qual foi o exame da consciência daquele burro, é o que presumo ter lido no escasso tempo que ali gastei. Sou outro Champollion, porventura maior; não decifrei palavras escritas, mas ideias íntimas de criatura que não podia exprimi-las verbalmente.
E diria o burro consigo:
“Por mais que vasculhe a consciência, não acho pecado que mereça remorso. Não furtei, não menti, não matei, não caluniei, não ofendi nenhuma pessoa. Em toda a minha vida, se dei três coices, foi o mais, isso mesmo antes haver aprendido maneiras de cidade e de saber o destino do verdadeiro burro, que é apanhar e calar. Quando ao zurro, usei dele como linguagem. Ultimamente é que percebi que me não entendiam, e continuei a zurrar por ser costume velho, não com ideia de agravar ninguém. Nunca dei com homem no chão. Quando passei do tílburi ao bonde, houve algumas vezes homem morto ou pisado na rua, mas a prova de que a culpa não era minha, é que nunca segui o cocheiro na fuga; deixava-me estar aguardando autoridade.”
“Passando à ordem mais elevada de ações, não acho em mim a menor lembrança de haver pensado sequer na perturbação da paz pública. Além de ser a minha índole contrária a arruaças, a própria reflexão me diz que, não havendo nenhuma revolução declarado os direitos do burro, tais direitos não existem. Nenhum golpe de estado foi dado em favor dele; nenhuma coroa os obrigou. Monarquia, democracia, oligarquia, nenhuma forma de governo, teve em conta os interesses da minha espécie. Qualquer que seja o regime, ronca o pau. O pau é a minha instituição um pouco temperada pela teima que é, em resumo, o meu único defeito. Quando não teimava, mordia o freio dando assim um bonito exemplo de submissão e conformidade. Nunca perguntei por sóis nem chuvas; bastava sentir o freguês no tílburi ou o apito do bonde, para sair logo. Até aqui os males que não fiz; vejamos os bens que pratiquei.”
“A mais de uma aventura amorosa terei servido, levando depressa o tílburi e o namorado à casa da namorada — ou simplesmente empacando em lugar onde o moço que ia ao bonde podia mirar a moça que estava na janela. Não poucos devedores terei conduzido para longe de um credor importuno. Ensinei filosofia a muita gente, esta filosofia que consiste na gravidade do porte e na quietação dos sentidos. Quando algum homem, desses que chamam patuscos, queria fazer rir os amigos, fui sempre em auxílio deles, deixando que me dessem tapas e punhadas na cara. Em fim...”
Não percebi o resto, e fui andando, não menos alvoroçado que pesaroso. Contente da descoberta, não podia furtar-me à tristeza de ver que um burro tão bom pensador ia morrer. A consideração, porém, de que todos os burros devem ter os mesmos dotes principais, fez-me ver que os que ficavam não seriam menos exemplares do que esse. Por que se não investigará mais profundamente o moral do burro? Da abelha já se escreveu que é superior ao homem, e da formiga também, coletivamente falando, isto é, que as suas instituições políticas são superiores às nossas, mais racionais. Por que não sucederá o mesmo ao burro, que é maior?
Sexta-feira, passando pela Praça Quinze de Novembro, achei o animal já morto.
Dois meninos, parados, contemplavam o cadáver, espetáculo repugnante; mas a infância, como a ciência, é curiosa sem asco. De tarde já não havia cadáver nem nada. Assim passam os trabalhos deste mundo. Sem exagerar o mérito do finado, força é dizer que, se ele não inventou a pólvora, também não inventou a dinamite. Já é alguma coisa neste final de século. Requiescat in pace.
Disponível em <www.eeagorajose.kit.net/estilos/croassisburro.htm>.
O cajueiro
Rubem Braga
O cajueiro já devia ser velho quando nasci. Ele vive nas mais antigas recordações de minha infância: belo, imenso, no alto do morro atrás da casa. Agora vem uma carta dizendo que ele caiu.
Eu me lembro do outro cajueiro que era menor e morreu há muito tempo. Eu me lembro dos pés de pinha, do cajá-manga, da grande touceira de espadas-de-são-jorge (que nós chamávamos simplesmente “tala”) e da alta saboneteira que era nossa alegria e a cobiça de toda a meninada do bairro porque fornecia centenas de bolas pretas para o jogo de gude. Lembro-me da tamareira, e de tantos arbustos e folhagens coloridas, lembro-me da parreira que cobria o caramanchão, e dos canteiros de flores humildes, “beijos”, violetas. Tudo sumira; mas o grande pé de fruta-pão ao lado da casa e o imenso cajueiro lá no alto eram como árvores sagradas protegendo a família. Cada menino que ia crescendo ia aprendendo o jeito de seu tronco, a cica de seu fruto, o lugar melhor para apoiar o pé e subir pelo cajueiro acima, ver de lá o telhado das casas do outro lado e os morros além, sentir o leve balanceio na brisa da tarde.
No último verão ainda o vi; estava como sempre carregado de frutos amarelos, trêmulo de sanhaços. Chovera: mas assim mesmo fiz questão de que Carybé subisse o morro para vê-lo de perto, como quem apresenta a um amigo de outras terras um parente muito querido.
A carta de minha irmã mais moça diz que ele caiu numa tarde de ventania, num fragor tremendo pela ribanceira; e caiu meio de lado, como se não quisesse quebrar o telhado de nossa velha casa.
Diz que passou o dia abatida, pensando em nossa mãe, em nosso pai, em nossos irmãos que já morreram. Diz que seus filhos pequenos se assustaram; mas foram brincar nos galhos tombados.
Foi agora, em fins de setembro. Estava carregado de flores.
Setembro, 1954.
Cem crônicas escolhidas. Rio de Janeiro: José Olímpio, 1956.
Cobrança
Moacyr Scliar
Ela abriu a janela e ali estava ele, diante da casa, caminhando de um lado para outro. Carregava um cartaz, cujos dizeres atraíam a atenção dos passantes: “Aqui mora uma devedora inadimplente.”
— Você não pode fazer isso comigo — protestou ela.
— Claro que posso — replicou ele. — Você comprou, não pagou. Você é uma devedora inadimplente. E eu sou cobrador. Por diversas vezes tentei lhe cobrar, você não pagou.
— Não paguei porque não tenho dinheiro. Esta crise...
— Já sei — ironizou ele. — Você vai me dizer que por causa daquele ataque lá em Nova York seus negócios ficaram prejudicados. Problema seu, ouviu? Problema seu. Meu problema é lhe cobrar. E é o que estou fazendo.
— Mas você podia fazer isso de uma forma mais discreta...
— Negativo. Já usei todas as formas discretas que podia. Falei com você, expliquei, avisei. Nada. Você fazia de conta que nada tinha a ver com o assunto. Minha paciência foi se esgotando, até que não me restou outro recurso: vou ficar aqui, carregando este cartaz, até você saldar sua dívida.
Neste momento começou a chuviscar.
— Você vai se molhar — advertiu ela. — Vai acabar ficando doente.
Ele riu, amargo:
— E daí? Se você está preocupada com minha saúde, pague o que deve.
— Posso lhe dar um guarda-chuva...
— Não quero. Tenho de carregar o cartaz, não um guarda-chuva.
Ela agora estava irritada:
— Acabe com isso, Aristides, e venha para dentro. Afinal, você é meu marido, você mora aqui.
— Sou seu marido — retrucou ele — e você é minha mulher, mas eu sou cobrador profissional e você é devedora. Eu a avisei: não compre essa geladeira, eu não ganho o suficiente para pagar as prestações. Mas não, você não me ouviu. E agora o pessoal lá da empresa de cobrança quer o dinheiro. O que quer você que eu faça? Que perca meu emprego? De jeito nenhum. Vou ficar aqui até você cumprir sua obrigação.
Chovia mais forte, agora. Borrada, a inscrição tornara-se ilegível. A ele, isso pouco importava: continuava andando de um lado para outro, diante da casa, carregando o seu cartaz.
O imaginário cotidiano. São Paulo: Global, 2001.
Conformados e realistas
Tostão
Fernando Calazans e poucos outros jornalistas esportivos têm sido críticos e realistas sobre a qualidade e o futuro do futebol brasileiro, da Seleção e dos clubes. Penso da mesma forma. Estamos preocupados. Já a numerosa turma do oba-oba, também chamada de otimista, acha que somos muito pessimistas.
Os conformados, os que têm pouco senso crítico e também os modernistas, que são muito bem preparados cientificamente, dizem que o futebol moderno é esse aí. Temos de engoli-lo. Tocar a bola e esperar o momento certo para tentar fazer o gol virou sinônimo de lentidão. Confundem modernidade com mediocridade.
Ninguém é tão ingênuo para achar que se deve jogar hoje no estilo dos anos 60. O que queremos é ver mais qualidade. Não podemos nos contentar com um futebol medíocre, quase só de jogadas aéreas e de muita falta e correria. O encanto do futebol é outro.
Os jogadores são produzidos em série, para exportação, como uma fábrica de parafusos. Os atletas de talento são colocados na mesma linha de produção dos medíocres. Há mercado para todos. Aumentou a quantidade e diminuiu a qualidade.
Nos últimos 14 anos, a Argentina ganhou cinco mundiais sub-20 (acontecem de dois em dois anos), além de duas medalhas de ouro nas Olimpíadas. O time que derrotou o Brasil tem sete jogadores da equipe campeã mundial sub-20 em 2005.
Muitos vão dizer, com um ótimo argumento, que nesse período, o Brasil ganhou duas copas do mundo e mais um vice, enquanto a Argentina não venceu nada. A razão disso é óbvia. A Argentina não teve um único fenômeno nesses 14 anos, até chegar Messi. Já o Brasil teve Romário, Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho e Kaká. Todos os cinco ganharam o título de melhor do mundo.
Os fenômenos, em todos os esportes, dependem muito menos das condições em que são treinados. Eles não têm explicação. Mas não se pode depender tanto deles. É preciso criar boas estruturas e estratégias para formar um número maior de excelentes atletas. Esses têm diminuído no futebol brasileiro.
Muitos treinadores brasileiros conhecem tudo de esquema tático, de estatísticas, dos adversários, porém conhecem pouco as sutilezas e subjetividades. Não são bons observadores.
Quem não sabe ver não sabe nada. Eles se preocupam mais com seus esquemas táticos que com a qualidade do jogo e se os melhores jogadores estão nos lugares certos.
Há exceções. Enfim, apareceu um técnico brasileiro que colocou Carlos Alberto na posição certa, se movimentando na frente, por todos os lados, e mais perto do gol, onde pode e deve driblar. Assim ele jogou no Porto com José Mourinho. Carlos Alberto não é armador, organizador, como atuava.
Felipão estava louco para ver Robinho no Chelsea porque precisa de um atacante rápido, habilidoso, que joga melhor pelos lados e que é capaz de marcar no próprio campo e aparecer com facilidade no ataque. Robinho é um desses raros jogadores. Se Felipão fosse treinador da Seleção, certamente faria o mesmo.
O Povo Online, 30/8/2008. Disponível em <www.opovo.uol.com.br/opovo/colunas/tostao/816045.html>.
Falemos das flores José de Alencar
Falemos das flores.
O que é uma flor?
Será esta criação vegetal que na primavera se abre do botão de uma planta?
Não: a flor é o tipo da perfeição, é a mais sublime expressão da beleza, é um sorriso cristalizado, é um raio de luz perfumado.
Por isso há muitas espécies de flor.
Há as flores do vale - mimosas criaturas que vivem o espaço de um dia, que se alimentam de orvalho, de luz e de sombras.
Há as flores do céu - as estrelas, - que brilham à noite no seu manto azul, como os olhos de uma linda pensativa.
Há as flores do ar - as borboletas, - que têm nas suas asas ligeiras as mais belas cores do prisma.
Há as flores da terra - as mulheres, - rosas perfumadas que ocultam entre as folhas os seus espinhos.
Há as flores dos lábios - os sorrisos, lindas boninas que o menor sopro desfolha.
Há as flores do mar - as pérolas, - filhas do oceano que saem do seio das ondas para se aninharem no seio de uma mulher morena.
Há as flores da poesia - os versos, - às vezes tão cheios de perfumes e de sentimentos como a mais bela flor da primavera.
Há as flores d'alma - os sentimentos, - flores a que o coração serve de vaso, e as lágrimas de orvalho.
Há as flores da religião - as preces, - modestas violetas que perfumam a sombra e o retiro.
Há as flores da harmonia - os gorjeios - que brincam nos lábios mimosos de uma boquinha sedutora.
Há as flores do espírito - os ziguezagues, - que nascem sobre o papel como rosas silvestres e sem cultura.
(Não falo dos nossos ziguezagues, que, quando muito, são flores murchas).
Há enfim uma espécie de flor que é tão rara como a tulipa negra de Alexandre Dumas, como o cravo azul de Jean-Jacques, como o crisântemo azul de George Sand.
É a flor da vida, este sonho dourado, este puro ideal a que todos aspiram e de que tão poucos gozam.
Porque a flor da vida apenas vive um dia, como as rosas da manhã que a brisa da tarde desfolha.
E quando murcha, deixa dentro d'alma os seus perfumes, que são essas recordações queridas que nos sorriem ainda nos últimos tempos da existência.
Para uns a flor da vida nasce nos lábios de uma mulher; para outros no seio de um amigo.
Feliz do caminhante que à beira do bosque por onde passa colhe esta florzinha azul, espécie de urze cingida de uma coroa de espinhos.
Muitas vezes, depois de muitas fadigas, quando já tem as mãos feridas dos espinhos, e que vai colher a flor, ela se desfolha.
O vento soprou sobre ela, ou um verme roeu-lhe os estames.
Até aqui os meus leitores têm visto o mundo pelo prisma de uma flor; mas não se devem iludir com isso.
Algum velho político de cabelos brancos lhes dirá que isto são simples devaneios de uma imaginação exaltada.
A flor é a poesia, mas o fruto é a realidade, é a única verdade da vida.
Enquanto pois os poetas vivem à busca de flores, os homens sérios e graves, os homens práticos só tratam de colher os frutos.
Eles veem desabrochar as flores, exalar os seus perfumes, e esperam como o hortelão que chegue o outono e com ele o tempo da colheita.
E na verdade, a flor encerra sempre o germe de um fruto, de um pomo dourado, que outrora perdeu o homem, mas que é hoje a sua salvação.
A explicação disto me levaria muito longe, se eu não me lembrasse que até agora ainda não escrevi uma linha de revista, e ainda não dei aos meus leitores uma notícia curiosa.
Mas, a falar a verdade, não me agrada este papel de noticiador de coisas velhas, que o meu leitor todos os dias vê reproduzidas nos quatro jornais da corte, em primeira, segunda, e terceira edição.
Poderia dizer-lhe que depois da epidemia vai-se revelando uma outra epidemia de divertimentos, realmente assustadora.
Fala-se em clube artístico, em baile mascarado no teatro lírico, em passeios de máscaras pelas ruas, numa companhia francesa de vaudevilles, e em mil outras coisas que tornarão esta bela cidade do Rio de Janeiro um verdadeiro paraíso.
Neste tempo é que os folhetinistas baterão as asas de contentes, e não terão trabalho de escrever tiras de papel; preferirão ir ao baile, ao passeio, ao teatro, colher as flores de que hão de formar o seu bouquet de domingo.
Enquanto porém não chega esta bela quadra, essa primavera dos nossos salões, esse abril florido da nossa sociedade, não há remédio senão contentarmo-nos com o que temos, e em vez de rosas, apresentar ao leitor as folhas secas do ano.
A respeito de teatro, não falemos; é uma casa em cujo pórtico (digo pórtico figuradamente) a prudência parece ter gravado a inscrição de Dante: — Guarda e passa.
Se desprezais o aviso e entrais, daí a pouco tereis razão de arrepender-vos.
Sentai-vos em uma cadeira qualquer: a vossa direita está um gruísta; a vossa esquerda um chartonista.
Levanta-se o pano: representa-se a Norma ou a Fidanzata Corsa; canta uma das duas prima-donas, uma das duas prediletas do público.
— Bravo! grita o gruísta entusiasmado.
— Que exageração! diz o chartonista estirando o beiço.
— Divino!
— Oh! é demais!
— Sublime!
— Insuportável!
E assim neste crescendo continuam os dois dilettanti, de maneira que o vosso ouvido direito está sempre em completa oposição com o vosso ouvido esquerdo.
Cai o pano.
No intervalo conversai um pouco com os vossos vizinhos.
— É preciso ser completamente ignorante, diz o gruísta com o aplomb de um maestro, para não se apreciar a sublimidade do talento desta mulher!
Vós, meu leitor, que não quereis assinar um termo de ignorante, não tendes remédio senão confessar-vos gruísta, e em lugar de dois pontos de admiração dais três.
— Com efeito, é uma artista exímia!!!
Apenas acabais a palavra, quando o chartonista vos interroga do outro lado.
— É possível que um homem de gosto e de sentimento admita semelhantes exagerações?
Ficais embatucado; mas, se não quereis passar por homem de mau gosto, deveis imediatamente responder:
— Com efeito, não é natural.
Daí a um momento o vosso vizinho da direita retruca:
— Veja, todos os camarotes da 4a ordem estão vazios.
— É verdade!
Torna o vizinho esquerdo:
— Com esta chuva, que casa, hem!
— Boa!
Agora acrescentai a isto as desafinações do Dufrene, a rouquidão do Gentile, os cochilos do contra-regra, e fazei ideia do divertimento de uma noite de teatro.
Ao correr da pena. 2ª ed. São Paulo: Melhoramentos, s/d.
Quem tem medo de mortadela?
Mário Prata
Modismo é conosco mesmo. O brasileiro adora inventar moda. E todo mundo vai atrás dela. A última do brasileiro é “primeiro mundo”. Os publicitários nativos inventaram a expressão e agora tudo que nós queremos tem que ser coisa do “primeiro mundo”.
O carro é do primeiro mundo, a bebida é do primeiro mundo, a mulher é do primeiro mundo. Cineastas querem fazer filme de primeiro mundo, diretores de teatro trazem a moda lá da Europa. E os preços, evidentemente, também são de primeiro mundo.
Será que não nos bastam os exemplos de Portugal, Espanha, Irlanda e Grécia, que se debruçaram na mamata da CEE e agora enfrentam uma séria recessão e desemprego?
Por que essa mania, de repente, de querer virar primeiro mundo? De terceiro para primeiro? Não seria o caso de fazer um estágio, antes, no segundo mundo?
Os do primeiro mundo adoram as coisas aqui do terceiro. Por exemplo, a caipirinha. Alemães, ingleses, americanos, suecos caem trôpegos pelas calçadas de Copacabana. Quer coisa rnais brasileira, mais terceiromundista, mais caipira e mais barata? Mas já estão avacalhando com ela. Agora já tem caipirinha de vodca e, pasmem, de rum. Caipirinha sempre foi e sempre será de cachaça. Coisa de caipira mesmo. E é esta bebida que os europeus vêm procurar aqui. Mas já meteram a vodca e o rum nela para ficar com cara de primeiro mundo. Vamos deixar a caipirinha caipira, brasileiros!
Toda essa introdução para chegar à mortadela. Ou mortandela, como preferem garçons e padeiros. Quer coisa mais brasileira que a mortadela? Claro que ela veio lá da Itália. Mas tornou-se, talvez pelo baixo preço, o petisco do brasileiro. O nome vem de murta, uma plantinha italiana que lhe valeu o nome. Infelizmente o brasileiro acha que mortadela é coisa de pobre, de faminto. E o que somos nós, cara-pálidas?
A cachaça e a mortadela são produtos do Brasil, do nosso querido terceiro mundo. Mas acontece que há um preconceito dos patrícios contra a cachaça e a mortadela. Contra a mortadela o caso é mais grave. Se você oferecer mortadela numa festa, vão te olhar feio. Você deve estar perto da falência.
Neste Natal e no Reveillon frequentei várias mesas, e em nenhuma havia mortadela. Queijos de primeiro mundo, vinho de primeiro mundo, perfumes de primeiro mundo, até um peru argentino eu comi. Mas mortadela que é bom, nada. Nem uma fatiazinha.
Quando o brasileiro irá assumir que a mortadela é a melhor entrada do mundo? Quando você for para a Europa, não adianta pedir dead her que não vai encontrar. Nem muerta dela.
Mas nem tudo está perdido. No dia 1° do ano almocei com o casal Annette e Tenório de Oliveira Lima, e lá estava a mortadela, fresquinha no prato rósea. Um limãozinho em cima, um pedacinho de pão e viva o terceiro mundo, visto lá de cima do apartamento do Morumbi.
No mesmo dia, de noite, fui ao peemedebista Bar Nabuco, debaixo de frondosas sibipirunas da Praça Vilaboim e estava lá, no cardápio, toda sem-vergonha, a mortadela brasileira. Achei que estava começando bem o ano. Vai ser um Ano Bom, como se dizia antigamente. Se os novos-ricos do PMDB estão comendo mortadela, nem tudo está perdido. No Gargalhada Bar mais para PT, há um excelente sanduíche de mortadela.
E, nas boas padarias do ramo você ainda encontra a verdadeira mortadela, aquela que chega no balcão, feita na chapa, sem queimar muito, servida em pãezinhos saídos do forno.
Vamos deixar o primeiro mundo para lá. Vamos, este ano, tomar cachaça e comer mortadela. É muito mais barato ser pobre. Deixemos que o primeiro mundo exploda entre eles, mesmo tomando uísque escocês e comendo queijo fedido.
Por favor senhores brasileiros primeiro-mundistas, vamos deixar de frescura. Mortadela é o que há. É um barato.
Feliz 94 para todos vocês. Muita cachaça e muita mortadela. Apesar de tudo, o primeiro mundo é triste e melancólico. Continuemos felizes e alegres com a nossa cachaça e a nossa gostosa mortadela.
E que os candidatos à presidência deste nosso país do terceiro mundo não se esqueçam que o Jânio sempre se elegeu comendo “mortandela” e não caviar do primeiro mundo.
Publicada no jornal O Estado de S. Paulo, 5/1/1994.
A Rua do Ouvidor
Joaquim Manuel de Macedo
A Rua do Ouvidor contou diversas lojas de perfumarias, e, por consequência, devia ser a rua mais cheirosa, mais perfumada entre todas as da cidade do Rio de Janeiro.
E todavia não o era!...
Com efeito não havia nem há rua mais opulenta de aromas, de perfumes, de pastilhas odoríferas, de banhas e de pomadas de ótimo cheiro; mas tudo isso encerrado em vidrinhos, em frascos e em pequenas caixas bonitas que mantinham e mantêm a Rua do Ouvidor tão inodora como as outras de dia.
Atualmente de noite observa-se o mesmo fato.
Naquele tempo, porém, isto é, nos tempos do Demarais, e ainda depois, a Rua do Ouvidor, de fácil e reta comunicação com a praia, era uma das mais frequentadas pelos condutores dos repugnantes barris, das oito horas da noite até às dez.
A esses barris asquerosos o povo deu a denominação geralmente adotada de - tigres - pelo medo explicável que todos fugiam deles.
Esse ruim costume do passado me traz à memória informação falsa e ridícula que li, e caso infeliz e igualmente ridículo, de que fui testemunha ocular e nasal em 1839, no meu saudoso tempo de estudante.
A informação é a seguinte:
Um francês (viajante charlatão) passou pela cidade do Rio de Janeiro, e demorando-se nela alguns dias, ouviu dos patrícios da Rua do Ouvidor queixas dos incômodos tigres que frequentes passavam ali de noite. Sábio e consciencioso observador que era, o viajante tomou nota do ato, e poucos anos depois publicou, no seu livro de viagens, esta famosa notícia:
“Na cidade do Rio de Janeiro, capital do Império do Brasil, feras terríveis, os trigraves, vagam, durante a noite, pelas ruas, etc., etc.!!!”
E é assim que escreve a história!
O caso que observei foi desastroso, mas de natureza que fez rir a todos.
Pouco depois das oito horas da noite, um inglês, trajando casaca preta e gravata branca...
Entre parêntese.
Em 1839 ainda era de uso ordinário e comum a casaca; o reinado de paletó começou depois; muitos estudantes iam às aulas de casacas, e não havia senador nem deputado que se apresentasse desacasacado nas respectivas Câmaras: o paletó tornou-se eminentemente parlamentar de 1845 em diante.
Fechou-se o parênteses.
O inglês de chapéu de patente, casaca preta e gravata branca subia pela Rua do Ouvidor, quando encontrou um negro que descia, levando à cabeça um tigre para despejá-lo no mar.
O pobre africano ainda a tempo recuou um passo, mas o inglês que não sabia recuar avançou outro; o condutor do tigre encostou-se à parede que lhe ficava à mão direita, e o inglês supondo-se desconsiderado por um negro que lhe dava passo à esquerda pronunciou a ameaçadora palavra goodemi, e sem mais tir-te nem guar-te honrou com um soco britânico a face do africano, que perdendo o equilíbrio pelo ataque e pela dor, deixou cair o tigre para diante e naturalmente de boca para baixo.
Ah! Que não sei de nojo como o conte!
O Tigre ou o barril abismou em seu bojo o chapéu e a cabeça e inundou com o seu conteúdo a casaca preta, o colete e as calças do inglês.
O negro fugiu acelerado, e a vítima de sua própria imprudência, conseguindo livrar-se do barril, que o encapelara, lançou-se a correr atrás do africano, sacudindo o chapéu em estado indizível, e bradando furioso:
— Pegue ladron! Pegue ladron!...
Mas qual - pega ladron! -: todos se arredavam de inocente e malcheiroso negro que fugia, e ainda mais o inglês, tornado tigre pela inundação que recebera.
Era geral o coro de risadas na Rua do Ouvidor.
O inglês, perdendo enfim de vista o africano, completou o caso com um remate pelo menos tão ridículo como o seu desastre. Voltando rua acima, parou em frente de numeroso grupo de gente que testemunhara a cena, e ria-se dela.
Ainda hoje o estou vendo; o inglês parou, e sempre a sacudir o chapéu olhou iroso para o grupo e disse mas disse com orgulhosa gravidade britânica:
— Amanhã faz queixa a ministro da Inglaterra, e há de ter indenização de chapéu e de casaca perdidas.
Ah! Eu creio que então a melhor das risadas que romperam foi a minha gostosa, longa e repetida risada de estudante feliz e alegrão.
É inútil dizer que não houve questão diplomática. A Inglaterra ainda não se tinha feito representar no Brasil por Mr. Christie, o único capaz (depois do jantar) de exigir indenização do chapéu e da casaca que o patrício perdera.
Não foi este único desastre que os tigres ocasionaram, foram muitos e todos mais ou menos grotescos, e sei de um outro (além da encapelação do inglês) ocorrido na Rua do Carmo hoje Sete de Setembro, que de súbito desfez as mais doces esperanças do casamento inspirado e desejado por mútuo amor.
O namorado era estudante, meu colega e amigo; estava perdidamente apaixonado por uma viúva, viuvinha de dezoito anos, e linda como os amores.
Uma noite, a bela senhora estava à janela, e à luz de fronteiro lampião viu o namorado que, aproveitando o ponto do mais vivo clarão iluminador, lhe mostrava, levando-o ao nariz, um raminho de lindas flores, que ia enviar-lhe, quando nesse momento o cego apaixonado esbarrou com um condutor de tigre, e, embora não encapelado, foi quase tão infeliz como o inglês. O pior do caso foi que a jovem adorada incorreu no erro quase inevitável de desatar a rir, e logo depois de fugir da janela por causa do mau cheiro de que se encheu a rua. O namorado ressentiu-se do rir impiedoso da sua esperançosa e querida noiva; amoroso, porém, como estava, dois dias depois tornou a passar diante das queridas janelas. No erro; a formosa viúva, ao ver o estudante, saudou-o doce, ternamente, mas levou o lenço a boca para dissimular o riso lembrador de ridículo infortúnio. O estudante deu então solene cavaco, e não apareceu mais à bela viuvinha.
Um tigre matou aquele amor.
Memórias da Rua do Ouvidor. Rio de Janeiro: Perseverança, 1878
Pavão
Rubem Braga
Eu considerei a glória de um pavão ostentando o esplendor de suas cores; é um luxo imperial. Mas andei lendo livros, e descobri que aquelas cores todas não existem na pena do pavão. Não há pigmentos. O que há são minúsculas bolhas d’água em que a luz se fragmenta, como em um prisma. O pavão é um arco-íris de plumas. Eu considerei que este é o luxo do grande artista, atingir o máximo de matizes com o mínimo de elementos. De água e luz ele faz seu esplendor; seu grande mistério é a simplicidade.
Considerei, por fim, que assim é o amor, oh! minha amada; de tudo que ele suscita e esplende e estremece e delira em mim existem apenas meus olhos recebendo a luz de teu olhar. Ele me cobre de glórias e me faz magnífico.
Ai de ti, Copacabana. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1960.
Peladas
Armando Nogueira
Esta pracinha sem aquela pelada virou uma chatice completa: agora, é uma babá que passa, empurrando, sem afeto, um bebê de carrinho, é um par de velhos que troca silêncios num banco sem encosto.
E, no entanto, ainda ontem, isso aqui fervia de menino, de sol, de bola, de sonho: “Eu jogo na linha! eu sou o Lula!; no gol, eu não jogo, tô com o joelho ralado de ontem; vou ficar aqui atrás: entrou aqui, já sabe”. Uma gritaria, todo mundo se escalando, todo mundo querendo tirar o selo da bola, bendito fruto de uma suada vaquinha.
Oito de cada lado e, para não confundir, um time fica como está; o outro joga sem camisa.
Já reparei uma coisa: bola de futebol, seja nova, seja velha, é um ser muito compreensivo que dança conforme a música: se está no Maracanã, numa decisão de título, ela rola e quiçá com um ar dramático, mantendo sempre a mesma pose adulta, esteja nos pés de Gérson ou nas mãos de um gandula.
Em compensação, num racha de menino ninguém é mais sapeca: ela corre para cá, corre para lá, quica no meio-fio, para de estalo no canteiro, lambe a canela de um, deixa-se espremer entre mil canelas, depois escapa, rolando, doida, pela calçada. Parece um bichinho.
Aqui, nessa pelada inocente é que se pode sentir a pureza de uma bola. Afinal, trata-se de uma bola profissional, uma número cinco, cheia de carimbos ilustres: “Copa Rio-Oficial”, “FIFA — Especial”. Uma bola assim, toda de branco, coberta de condecorações por todos os gomos (gomos hexagonais!), jamais seria barrada em recepção do Itamaraty.
No entanto, aí está ela, correndo para cima e para baixo, na maior farra do mundo, disputada, maltratada até, pois, de quando em quando, acertam-lhe um bico, ela sai zarolha, vendo estrelas, coitadinha.
Racha é assim mesmo: tem bico, mas tem também sem-pulo de craque como aquele do Tona, que empatou a pelada e que lava a alma de qualquer bola. Uma pintura.
Nova saída.
Entra na praça batendo palmas como quem enxota galinha no quintal. É um velho com cara de guarda-livros que, sem pedir licença, invade o universo infantil de uma pelada e vai expulsando todo mundo. Num instante, o campo está vazio, o mundo está vazio. Não deu tempo nem de desfazer as traves feitas de camisas.
O espantalho-gente pega a bola, viva, ainda, tira do bolso um canivete e dá-lhe a primeira espetada. No segundo golpe, a bola começa a sangrar. Em cada gomo o coração de uma criança.
Os melhores da crônica brasileira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1977.
Do rock
Carlos Heitor Cony
Tocam a campainha e há um estrondo em meus ouvidos. A empregada estava de folga, o remédio era atender o mau-caráter que me batia à porta àquela hora da manhã. Vejo o camarada do bigodinho com o embrulho largo e enfeitado.
— É aqui que mora a senhorita Regina Celi?
Digo que não e fulmino o importuno com um olhar cheio de ódio e sono, mas antes de fechar a porta sinto alguma coisa de íntimo naquele “senhorita Regina Celi”, sim, há uma Regina Celi em minha casa, minha própria filha, mas apenas de 12 anos, uma guria bochechuda ainda, não merecia o título e a função de senhorita.
Chamo o homem que já estava no elevador. Eram CDs, a garota encomendara um mundão de CDs numa loja próxima, e pedira que mandassem as novidades, pois as novidades estavam ali, embrulhadinhas e com a nota fiscal bem às claras.
Gemo surdamente na hora de assinar o cheque e recebo o embrulho. A garota dormia impune, o mundo podia desabar, e ninguém a despertaria do sono 12 anos. Deixo o embrulho em cima do som e volto para a cama, forçar o sono e a tranquilidade interior, abalada pelo cheque tão matutino e fora de propósito. Quando ordeno os pensamentos e ambições no estreito espaço do meu pensamento e retomo um sono e um sonho sem cor nem gosto, começa o rock.
Anos atrás, seria começa o beguine. Mas o beguine passou de moda, e o swing, o mambo, o baião e outras pragas vindas de alheias e próprias pragas. Pois aí estava o rock, matinal, cor de sangue e metal inundando o dia e o quarto com sua voz rouca, seu compasso monótono e histérico.
Purgo honestamente meus pecados e lembro o pai, que me aturava a mania pelos sambas de Ary Barroso. O velho não dizia nada, mas me olhava fundo e talvez tivesse ganas de me esganar. Mas me aturava e aturava o meu Brasil brasileiro.
Hoje, aturo o rock. Vou ao banheiro, lavo o rosto, visto um short e vou para a sala disposto a causar boa impressão à senhorita Regina Celi, que de babydoll, esbaforida, se degringola ao som de U2.
O tapete já fora arrastado e amarfanhado a um canto. Meu castiçal de prata foi profanado com a cara de um tipo até simpático que naquela manhã ganhará alguma coisa à custa do meu labor e cheque.
A senhorita Regina Celi tem a cara afogueada, os pés e as pernas avançam e ficam no mesmo lugar, o corpo todo treme e sua, até que ela me estende o braço.
— Vem, papai!
O peso dos meus invernos e minhas banhas causa breve hesitação. Mas ali estamos, eu e a senhorita Regina Celi, uma menina que ainda pego no colo e aqueço com meu amor e o meu carinho, quando ela tem medo do mundo ou de não saber os afluentes da margem esquerda do rio Amazonas na hora do exame. Ela me chama e me perdoa.
Então, aumento o volume do som, espero o tal do U2 dar um grito histérico e medonho - e esqueço o cheque, a vida e a faina humana rebolando este cansado corpo-pasto de espantos - até que o fôlego e o U2 acabem na manhã e no som.
Crônicas para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.
São Paulo: as pessoas de tantos lugares
Milton Hatoum
À primeira vista, São Paulo assusta. Aos poucos, o susto cede ao fascínio, à surpresa da descoberta de muitos lugares escondidos ou ocultados numa metrópole da qual a natureza parece ter sido banida. Isto só em parte é verdade. Há vários parques e jardins — Aclimação, Villa-Lobos, Burle Marx, Água Branca e tantos outros —, sem contar o Ibirapuera, que simboliza uma promessa de urbanismo mais civilizado, ou de um processo urbano mais humanizado, interrompido pela ganância das construtoras e da especulação imobiliária em conluio com o poder público municipal.
Esse urbanismo desastroso e desumano é uma das características das cidades brasileiras, em que os bons arquitetos não participam da intervenção na paisagem urbana. Apesar das adversidades, um morador de São Paulo aprende a gostar da metrópole. Já quase não se vê o céu de Sampa, mas há bairros que são pequenas cidades, há ruas com um casario de uma outra época, com um ritmo de vida próprio, como se outro tempo resistisse ao cerco dos arranha-céus horrorosos e ao mundo das finanças e do consumo desenfreado.
Gosto de passear pelo Cambuci, Belenzinho, Penha; Brás, Mooca, Tatuapé e Santana ainda revelam muitos encantos, assim como a Estação da Luz e o Mercado Municipal. No mundo grandioso da metrópole, pode-se descobrir uma série de recantos: pequenas praças, um recorte de paisagem, um beco, um conjunto de casas neoclássicas, uma antiga vila operária, um boteco ou restaurante. Recantos que encerram um outro modo de vida, como se a metrópole fosse um palimpsesto a ser descoberto em cada andança. O oposto disso são edifícios dotados de clube e shopping centers, que separam seus moradores do resto da cidade, gerando uma nova forma de segregação do espaço, ainda mais radical que os condomínios.
Há pouco tempo, uma amiga carioca me disse que gostava cada vez mais de São Paulo. Quis saber por que. Porque fiz boas amizades na metrópole vizinha, ela disse.
Senti isso quando me mudei para cá em 1970. Morei num quarto de pensão na Liberdade. Um dos colegas dessa pensão era outro migrante, um rapaz de Londrina que passava o dia estudando música e que se tornou, além de um grande músico, um grande amigo: Arrigo Barnabé.
Entendi que São Paulo era uma meca para onde confluíam pessoas de todos os quadrantes, as latitudes e as origens; talvez seja este o maior encanto desta metrópole que une o culto ao trabalho com promessas de amizade. A diversidade étnica de São Paulo reitera a mestiçagem brasileira, uma das nossas maiores riquezas.
Não há um único paulistano que não reclame do trânsito, da poluição, da violência e das filas intermináveis, mas as relações de trabalho e afeto, que são formas poderosas de inserção social, servem de contrapeso ao caos e aos males da metrópole.
Milton Hatoum, 55, escritor, autor de Órfãos do Eldorado e Dois irmãos (ambos pela Companhia das Letras), entre outros títulos. Texto publicado na Revista da Folha, 25/05/2008.
Sobre a crônica
Ivan Ângelo
Uma leitora se refere aos textos aqui publicados como “reportagens”. Um leitor os chama de “artigos”. Um estudante fala deles como “contos”. Há os que dizem: “seus comentários”. Outros os chamam de “críticas”. Para alguns, é “sua coluna”.
Estão errados? Tecnicamente, sim — são crônicas —, mas... Fernando Sabino, vacilando diante do campo aberto, escreveu que “crônica é tudo o que o autor chama de crônica”.
A dificuldade é que a crônica não é um formato, como o soneto, e muitos duvidam que seja um gênero literário, como o conto, a poesia lírica ou as meditações à maneira de Pascal¹. Leitores, indiferentes ao nome da rosa, dão à crônica prestígio, permanência e força. Mas vem cá: é literatura ou é jornalismo? Se o objetivo do autor é fazer literatura e ele sabe fazer...
Há crônicas que são dissertações, como em Machado de Assis; outras são poemas em prosa, como em Paulo Mendes Campos; outras são pequenos contos, como em Nelson Rodrigues; ou casos, como os de Fernando Sabino; outras são evocações, como em Drummond e Rubem Braga; ou memórias e reflexões, como em tantos. A crônica tem a mobilidade de aparências e de discursos que a poesia tem — e facilidades que a melhor poesia não se permite.
Está em toda a imprensa brasileira, de 150 anos para cá. O professor Antonio Candido observa: “Até se poderia dizer que sob vários aspectos é um gênero brasileiro, pela naturalidade com que se aclimatou aqui e pela originalidade com que aqui se desenvolveu”.
Alexandre Eulálio, um sábio, explicou essa origem estrangeira: “É nosso familiar essay², possui tradição de primeira ordem, cultivada desde o amanhecer do periodismo nacional pelos maiores poetas e prosistas da época”. Veio, pois, de um tipo de texto comum na imprensa inglesa do século XIX, afável, pessoal, sem-cerimônia e, no entanto, pertinente.
Por que deu certo no Brasil? Mistérios do leitor. Talvez por ser a obra curta e o clima, quente.
A crônica é frágil e íntima, uma relação pessoal. Como se fosse escrita para um leitor, como se só com ele o narrador pudesse se expor tanto. Conversam sobre o momento, cúmplices: nós vimos isto, não é, leitor?, vivemos isto, não é?, sentimos isto, não é? O narrador da crônica procura sensibilidades irmãs.
Se é tão antiga e íntima, por que muitos leitores não aprenderam a chamá-la pelo nome? É que ela tem muitas máscaras. Recorro a Eça de Queirós, mestre do estilo antigo. Ela “não tem a voz grossa da política, nem a voz indolente do poeta, nem a voz doutoral do crítico; tem uma pequena voz serena, leve e clara, com que conta aos seus amigos tudo o que andou ouvindo, perguntando, esmiuçando”.
A crônica mudou, tudo muda. Como a própria sociedade que ela observa com olhos atentos. Não é preciso comparar grandezas, botar Rubem Braga diante de Machado de Assis. É mais exato apreciá-la desdobrando-se no tempo, como fez Antonio Candido em “A vida ao rés do chão”: “Creio que a fórmula moderna, na qual entram um fato miúdo e um toque humorístico, com o seu quantum satis³ de poesia, representa o amadurecimento e o encontro mais puro da crônica consigo mesma”. Ainda ele: “Em lugar de oferecer um cenário excelso, numa revoada de adjetivos e períodos candentes, pega o miúdo e mostra nele uma grandeza, uma beleza ou uma singularidade insuspeitadas”.
Elementos que não funcionam na crônica: grandiloquência, sectarismo, enrolação, arrogância, prolixidade. Elementos que funcionam: humor, intimidade, lirismo, surpresa, estilo, elegância, solidariedade.
Cronista mesmo não “se acha”. As crônicas de Rubem Braga foram vistas pelo sagaz professor Davi Arrigucci como “forma complexa e única de uma relação do Eu com o mundo”. Muito bem. Mas Rubem Braga não se achava o tal. Respondeu assim a um jornalista que lhe havia perguntado o que é crônica:
— Se não é aguda, é crônica.
1. Blaise Pascal (1623-1662), matemático, filósofo e teólogo francês, autor de Pensamentos.
2. “Ensaio familiar”. Ensaio é um gênero inaugurado por Michel de Montaigne (1533-1592); vem da palavra francesa essayer (“tentar”). Um ensaio é um texto onde se encadeiam argumentos, por meio dos quais o autor defende uma ideia.
3. Em latim, “a quantidade necessária”.
Veja São Paulo, 25/4/2007.
A última crônica
Fernando Sabino
A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: “assim eu quereria o meu último poema”. Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.
Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.
Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho - um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular.
A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.
São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: “Parabéns pra você, parabéns pra você...”. Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura — ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido — vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.
Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.
Elenco de cronistas modernos. 21ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2005.
“Escrevo porque à medida que escrevo vou me entendendo e entendendo o que quero dizer, entendo o que posso fazer. Escrevo porque sinto necessidade de aprofundar as coisas, de vê-las como realmente são...” (Clarice Lispector)
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